No Natal, se os sabores da língua tivessem voz, brindariam ao amor.
Algo extraordinário aconteceu naquela noite de consoada em Vila Língua. Os pratos típicos da gastronomia de língua portuguesa, transformados em meninos e meninas, reuniram-se, sob o olhar atento dos apetites para uma ceia inesquecível.
Como se o céu e a terra mudassem de lugar, as iguarias sentadas nas cadeiras encontrando o seu nome datilografado do cartão encimando as porcelanas, bem na frente dos seus olhos.
Todos se entreolhavam com alguma estranheza porque na verdade não se conheciam, e esta era a primeira vez que partilhavam a mesa, mas línguas não tardaram a se soltar.
Uelington Vatapá, um jovem alegre e vibrante, olhou carinhosamente para Constança Sarapatel, menina robusta e cheia de tempero, e atirou. “Sabe, Sarapatel”, disse com um sorriso, “hoje percebi que adoro ainda mais o aroma que você exala do que o seu sabor.”
Sarapatel corou, seus olhos brilhando como duas pimentinhas rosas. “Vatapá, você sempre soube como misturar as palavras com a mesma habilidade que mistura seus ingredientes, mas tanto atrevimento deixa minha gostosura sem jeito e sem graça.”
Mesmo ao lado, Rita Moqueca, uma garota alta, anafada e espirituosa com um vestido colorido como os frutos do mar em seu prato, exclamou com aquela estridência feliz mais acessível nos trópicos. “Vamos todos celebrar! Não apenas nossas origens, mas o que mais fortemente nos une: a língua portuguesa e o amor que por ela podes exprimir!”
Foi então que Felisberto Feijoada, garoto robusto, de voz tonitruante e modos acolhedores, ergueu sua taça no sentido do centro da larga mesa redonda e propôs um brinde. “À nossa língua, que nos permite compartilhar histórias e sonhos!”
A voz dela se ouviu pela primeira vez nitidamente quando Carolina Xima, menina de voz suave, fina estampa e gestos delicados, acrescentou, “Brindemos ao amor, que é como o tempero da vida, tornando tudo mais saboroso.”
A voz de Carolina destravou mais línguas. Guilherme Manjar-de-Coco, sempre doce e sonhador, levantou-se e também propôs: “Que cada um de nós compartilhe uma mensagem de amor, como fazemos com nossos sabores.”
Seguidamente, um a um, os pratos falaram. Monica Bebinka, com sua doçura típica, declarou: “Que o amor seja como o açúcar em mim, adoçando cada palavra das nossas vidas.”
Sérgio Moamba, forte e decisivo, afirmou, “Que o amor seja a base, como o meu óleo de palma, energia essencial que nutre cada coração.”
Por último, João Mário Bacalhau, menino viajado de sonhos e aventuras, tomou da palavra e arrematou. “Que o amor seja sempre o nosso fiel amigo.”
Entre risos e palavras doces, os sabores da tradição, desta vez com fala, partilharam mensagens de amor e esperança. E, naquela noite, a ceia em Vila Língua não foi apenas uma reunião de família, foi também uma celebração do que une comunidades: a língua, a cultura e, acima de tudo, o amor.
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