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2023 foi excepcional para quem pega no batente nos EUA – 13/12/2023 – Lúcia Guimarães

O escritor e humorista Millôr Fernandes dizia que os pessimistas têm vantagem sobre os otimistas porque ficam felizes quando erram e quando acertam. O ano de 2023 desafiou as piores previsões pessimistas, mas está fechando, nos Estados Unidos, com notícias melhores para os trabalhadores.

Em setembro, Joe Biden se tornou o primeiro presidente da história americana a se juntar a um piquete de greve numa fábrica da General Motors no estado de Michigan, com o detalhe do megafone que usou para encorajar os sindicalistas a resistir até ter “o aumento que vocês merecem.”

Na mesma semana e no mesmo estado, Donald Trump visitou, a convite da direção, uma fábrica de peças de automóveis cujos empregados não são sindicalizados. Mas contem com a imprensa americana para não destacar esta distinção quando descreve como os dois pré-candidatos cortejam o voto de trabalhadores.

O ano de 2023 deve ser lembrado como excepcional para os que pegam no batente nos EUA.

O crescimento da desigualdade econômica, ao longo de décadas, foi impulsionado pelo declínio dos sindicatos, a partir dos anos 1980. A classe média americana foi construída, em boa parte, pela adesão em massa aos sindicatos na primeira metade do século 20 e reforçada quando a Segunda Guerra Mundial exigiu vastos investimentos em defesa acompanhados de apoio federal ao poder de negociação coletiva em fábricas.

Acertou quem adivinhou que estas mudanças, naquela época foram combatidas ferrenhamente por empresários e financistas.

Das linhas de montagem no Michigan aos estúdios de Hollywood, o ano foi marcado por uma ressurgência de atividade sindical inteligente que resultou em vitórias expressivas de grevistas. O realinhamento já havia começado em anos recentes, numa reação à gig economy, ou economia de bicos. Historiadores ainda vão avaliar o quanto o choque da pandemia de Covid acelerou esta tendência.

Como, neste país, os estados têm independência de legislação trabalhista, o poder de barganha com empresas privadas depende de onde mora um empregado ou quem vive de trabalho informal.

Neste mês, um tribunal de apelações infligiu uma derrota ao lobby de empresas da gig economy lideradas pela Uber, que serão obrigadas a pagar quase US$18 por hora –US$3 acima do salário mínimo local — aos entregadores de comida, calculados em 65 mil pessoas, só na região metropolitana de Nova York.

A procuradora-geral do estado, Letitia James, dificilmente será convidada para a festa de Natal da Uber, já que, neste ano, impôs uma multa de US$ 290 milhões à empresa por “anos de roubo” de pagamentos a motoristas de aplicativo.

Noto, conversando com nova-iorquinos, como eles são desinformados sobre essas transformações — um resultado talvez do fato de que o jornalismo econômico aqui reflete, de maneira desproporcional, interesses de empresários e de Wall Street.

Mas ainda há argumentos para entreter pessimistas. As reformas das leis de trabalho, enfraquecidas ao longo de décadas nos EUA, têm esbarrado em oposição ou inação no Congresso.

Nos anos 1990, as perdas impostas pela globalização em países desenvolvidos inspiraram uma cultura de condenação aos sindicatos, cuja representatividade mergulhou para 10% da força de trabalho americana em 2022. Mas pesquisas de opinião hoje mostram que sindicalismo deixou de ser palavrão e a organização de trabalhadores conta com apoio de 67% do público.


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Fonte: Folha de São Paulo

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