Em escalada retórica que aumenta a tensão na Guatemala após a disputa presidencial, o Ministério Público do país afirmou nesta sexta-feira (8) que a eleição deveria ser anulada devido a irregularidades encontradas no pleito vencido pelo esquerdista Bernardo Arévalo. Organizações internacionais acusam tentativa de golpe de Estado no país latino-americano cuja democracia é considerada frágil.
Os procuradores apontaram o que seriam inconsistências no registro dos eleitores antes da eleição e nas atas físicas e resultados da votação no sistema digital. Segundo a promotora Leonor Morales, portanto, as eleições para presidente, vice-presidente e deputados deveriam ser considerados nulos devido ao que chamou de anomalia no pleito. Ela acrescentou que todos os partidos seriam atingidos pela medida e disse que a investigação tem “caráter científico”.
Mas organizações internacionais criticam a investigação, descrevendo-a como uma tentativa de impedir que Arévalo assuma o cargo em janeiro. Minutos após o pronunciamento de Morales, a Organização dos Estados Americanos (OEA) acusou a promotoria guatemalteca de tentar aplicar um “golpe de Estado”.
O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Guatemala também reagiu com agilidade. Blanca Alfaro, a presidente da instância jurídica máxima do país, descartou nesta sexta repetir as eleições presidenciais. “Quero ratificar que os resultados estão validados, oficializados e são inalteráveis”, disse em nota.
Promotores do Ministério Público já haviam declarado que tentariam anular a eleição vencida por Arévalo. O presidente eleito, por sua vez, vem denunciando o que chama de “ataque contra a democracia”.
No mês passado, o Ministério Público anunciou que iria pedir a retirada da imunidade de Arévalo, e de sua vice, Karin Herrera, por suposta relação deles com a ocupação da Universidade de San Carlos (Usac), que durou de maio de 2022 a junho de 2023, e na qual teriam sido cometidos delitos.
Segundo a Procuradoria, após a ocupação, a universidade teria sido convertida em plataforma política para candidatos do Movimento Semilla, partido do presidente eleito.
Antes, o TSE inabilitou o Semilla em cumprimento a uma ordem emitida pela Justiça em agosto devido a supostas irregularidades na inscrição do partido. A legenda fora inicialmente inabilitada em agosto, após a ordem. No entanto, o tribunal suspendera temporariamente a inabilitação em setembro, até que o processo eleitoral fosse formalmente encerrado em 31 de outubro. A suspensão fora ordenada pelo controverso juiz Fredy Orellana a pedido do Ministério Público.