Por Fábio Pescarini / Folhapress
Em menos de 15 dias, duas baleias-jubarte foram resgatadas por redes de pesca no litoral norte de São Paulo. Os casos ocorrem em Ilhabela e Ubatuba.
O número de animais resgatados é o mesmo de toda a temporada de passagem de jubartes, em migração ao sul da Bahia, em 2024, diz o Instituto Argonauta para a Conservação Costeira e Marinha que faz esse trabalho.
Como mostrou a Folha, a atual migração de baleias-jubarte tem expectativa de recorde de avistamentos no litoral norte paulista. A temporada vai de abril a agosto.
Segundo Carla Beatriz Barbosa, bióloga coordenadora do instituto, o emalhe acidental de baleias ocorre principalmente devido à sobreposição das rotas migratórias desses animais com áreas de atividade pesqueira. “Por isso, ações integradas de monitoramento, resposta emergencial e educação ambiental são essenciais para mitigar os impactos sobre a biodiversidade marinha”, afirma.
No primeiro caso, o instituto diz ter sido acionado em 16 de junho por observadores da operadora Abordo Turismo e do Projeto Baleia à Vista por causa de uma baleia emalhada em petrechos de pesca.
A equipe diz ter avaliado a extensão do enredamento e, ao longo de três aproximações, conseguiu acoplar boias e realizar cortes parciais nos cabos presos à região da cabeça e nadadeira caudal da baleia.
A operação foi interrompida no fim da tarde e por motivos de segurança, e o animal acabou parcialmente liberado. Ou seja, continuou com parte dos petrechos.
O segundo caso ocorreu em Ubatuba e o resgate ocorreu em duas etapas. O primeiro atendimento foi no dia 19, após comunicação de um morador local sobre uma baleia juvenil, com cerca de sete metros de comprimento, presa em rede, nas proximidades da Ilha Anchieta.
Na operação, houve a aplicação de técnicas de desenredamento que resultou em um desemalhe parcial.
No dia 30, a mesma jubarte foi reencontrada pela equipe de monitoramento embarcado do instituto e foi possível realizar cortes e remover completamente cerca de 27 metros do petrecho.
“Após o desemalhe completo, o animal apresentou comportamento ativo, indicando melhora na mobilidade”, diz.
Segundo o instituto, as técnicas de resgate seguem protocolos internacionais de segurança desenvolvidos por instituições como o Center for Coastal Studies (EUA) e adaptados ao Brasil com treinamentos promovidos pelo CMA-ICMBio, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos, ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente).
O procedimento envolve o uso de embarcações de pequeno porte e ferramentas adaptadas, que permitem cortar as redes sem a necessidade de contato direto com o animal –o que evita riscos tanto para a baleia quanto aos socorristas. A aproximação é feita de forma progressiva, observando o comportamento do animal e priorizando sua segurança.
A equipe de resposta da organização conta com seis profissionais capacitados, organizados em três duplas operacionais.
Eventualmente, explica o instituto, três pessoas podem ocupar o um bote de ataque, que atua no desenredamento efetivamente, além da equipe que dá apoio e acompanha a atividade em barco de apoio ou em terra.
“Essa ocorrência demonstra a importância de se ter equipes preparadas e articuladas para responder com agilidade a situações de risco”, diz Hugo Gallo Neto, oceanógrafo, diretor do Aquário de Ubatuba e presidente do Instituto Argonauta, organização não governamental criada em 1998.
“Por mais bem-intencionadas ou habilidosas que algumas pessoas possam ser, intervenções feitas por conta própria são extremamente arriscadas”, alerta.