Não têm sido semanas fáceis para o primeiro governante de esquerda da Colômbia, Gustavo Petro, que vem tendo dificuldade em administrar a série de eventos negativos de uma crise que está abalando sua já fraca gestão.
Na última quinta-feira (3), os EUA convocaram seu encarregado de negócios em Bogotá, em protesto contra declarações de um ex-membro do alto escalão do governo Petro.
A medida, incomum entre esses dois aliados históricos, foi causada pela divulgação de uma série de áudios em que o ex-chanceler Álvaro Leyva surge discutindo com políticos colombianos a possibilidade de conseguir apoio de Donald Trump para um golpe que removeria Petro do poder.
Leyva é um político veterano, foi figura-chave na negociação de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), estabeleceu conversas frustradas com o ELN (Exército de Libertação Nacional) e é conhecido por ter vínculos suspeitos com facções criminosas, como o Clã do Golfo.
Depois de ter sido afastado do governo, Leyva virou um férreo opositor de Petro. Nos áudios revelados ele relata encontros com congressistas da Flórida vinculados ao secretário de Estado, Marco Rubio. “Hay que sacar a ese tipo” (é preciso retirar esse sujeito), disse Leyva nas conversas gravadas com opositores do presidente.
Em resposta à medida de Washington, Petro também convocou seu embaixador nos Estados Unidos. Rubio disse que tal manobra danifica “seriamente a relação bilateral”.
Leyva foi uma figura central na política colombiana nas últimas décadas. Ex-ministro do conservador Belisario Betancur nos anos 1980, sempre transitou entre os bastidores do poder e o vínculo nem sempre transparente com organizações fora da lei. Sua tresloucada proposta de golpe incluiria na formação do novo governo grupos hoje dedicados ao narcotráfico.
Antes mesmo da publicação dos áudios, Petro já havia insinuado que havia um complô internacional contra ele envolvendo parlamentares americanos.
Esse episódio se soma a outros sinais de alarme para a estabilidade democrática na Colômbia. Em junho, o país foi sacudido pelo atentado ao pré-candidato de direita Miguel Uribe Turbay. O caso reacendeu memórias dos tempos mais sombrios da política colombiana, nos anos 1980/90, época de auge dos grandes cartéis de drogas, quando figuras públicas foram assassinadas à luz do dia.
A crise com os EUA ficou ainda mais grave com a renúncia da então chanceler, Laura Sarabia, até pouco tempo braço direito de Petro.
O presidente tem pouco tempo de mandato adiante —as eleições presidenciais ocorrem em maio de 2026—, mas ainda pode restaurar a credibilidade que ganhou por meio das urnas e evitar que o país perca a confiança e as conquistas dos últimos 30 anos.
Para isso, deve deixar o tom conspiratório de suas respostas a dificuldades, assim como evitar vitimizar-se citando exemplos do passado —como faz ao comparar-se com Salvador Allende, o presidente socialista chileno assassinato por um golpe militar em 1973.
Seu governo decepcionou em termos das reformas prometidas. Agora, resta-lhe chegar ao fim de seu mandato entregando um país democrático em que as instituições, embora de maneira instável, vinham funcionando quando ele assumiu o poder.
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