O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cancelou todas as agendas públicas e ficará em “repouso absoluto” durante o mês de julho, segundo comunicado divulgado nesta terça-feira (1º).
A decisão foi tomada após consulta médica de urgência. Bolsonaro, 70, apresenta crises constantes de soluços e vômitos, que o impedem inclusive de falar, conforme nota assinada pelo próprio ex-presidente e divulgada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em rede social.
“Ficam suspensas as agendas de Santa Catarina e Rondônia”, disse o ex-presidente na nota. Mais cedo, Bolsonaro já havia cancelado sua participação no evento de lançamento do PL60+ no Distrito Federal, na Câmara dos Deputados.
Nota assinada pelos médicos Claudio Birolini e Leandro Echenique afirma que o objetivo é “garantir a completa recuperação de sua saúde após a cirurgia extensa e internação prolongada, episódio de pneumonia e crises recorrentes de soluços”.
“Durante esse período, ele ficará afastado de suas atividades habituais, incluindo agendas públicas e atividade político-partidária, retornando tão logo esteja plenamente restabelecido.”
Nesta quarta-feira (2), um novo boletim assinado pelos médicos informou que o ex-presidente foi submetido a uma endoscopia. O procedimento revelou que Bolsonaro sofre de uma esofagite. A nota também afirma que as recomendações médicas anteriores foram mantidas.
“Será intensificado o tratamento medicamentoso, que havia sido iniciado há alguns dias. Seguem as orientações para moderação da fala, dieta regrada e repouso familiar”, diz o comunicado.
Os dois médicos participaram do tratamento após a internação em abril, quando o ex-mandatário passou 21 dias internado depois de se sentir mal em uma agenda no interior do Rio Grande do Norte.
Na época, ele passou pela sua sexta e mais longa cirurgia abdominal desde a facada que sofreu na campanha eleitoral de 2018. O procedimento de 12 horas consistiu em uma “laparotomia exploradora, para liberação de aderências intestinais e reconstrução da parede abdominal”, segundo comunicado do hospital DF Star.
Aderências intestinais são uma espécie de “cola” biológica resultante do processo de cicatrização seja do trauma original, como a facada, seja de cirurgias posteriores. Ao endurecer, essa estrutura forma cordões que podem grudar ou juntar partes do corpo.
Dependendo da posição, pode juntar duas partes da alça do órgão, obstruindo a passagem do alimento pelo intestino.
A laparotomia exploradora consiste na abertura da parede abdominal. Identificado o ponto de obstrução, é feito o corte das aderências e desobstrução do intestino para, por fim, reconstruir-se a parede abdominal.
Dias depois da alta, Bolsonaro participou de uma manifestação em Brasília, no dia 7 de maio. Ele tem episódios de mal-estar abdominal e soluços, como ocorreu durante uma entrevista a uma rádio bolsonarista na semana passada.
No dia 20 de junho, passou mal durante uma agenda em Goiás e retornou a Brasília para exames. Um dia antes, participou de uma agenda na Câmara Municipal de Aparecida de Goiânia, pediu desculpas e disse que vomita “dez vezes por dia”.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, em rede social, afirmou que o marido “precisa deste tempo para se recuperar completamente” e que logo “ele estará 100% para retomar suas agendas de trabalho”.
A decisão dos médicos atrapalha os planos de Bolsonaro de manter sua base mobilizada diante da proximidade do julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) do processo da trama golpista. O caso entrou na fase decisiva, de alegações finais, e a expectativa na corte é que esteja pronto para ser julgado em setembro.
O quadro de saúde do ex-presidente piorou depois de participar no último domingo (29) de manifestação na avenida Paulista. O ato, em protesto contra o STF, tinha o mote “justiça já” e, na ocasião, ele discursou por cerca de 30 minutos em um trio elétrico, sob sol. O evento durou mais de duas horas.
O ex-mandatário tem insistido que será candidato a presidente em 2026, apesar de estar inelegível até 2030 por decisão da Justiça Eleitoral. Na mais recente manifestação, porém, citou a hipótese de não voltar ao cargo. “Nem eu preciso ser presidente.”
Com Bolsonaro fora da disputa, o campo da direita vive uma indefinição sobre quem será o candidato que enfrentará o presidente Lula na campanha eleitoral do próximo ano. Entre os cotados, está o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).