Um entregador que perdeu os cinco dedos do pé esquerdo após prendê-los numa parte lascada de plataforma em estação do metrô no Bronx, em Nova York (EUA), e ser jogado aos trilhos vai receber uma indenização considerada histórica na cidade: Maruf Hossain receberá R$ 25 milhões por dedo perdido, totalizando R$ 125 milhões, de acordo com decisão judicial nesta semana.
O acidente ocorreu em junho de 2017, quando Maruf tinha 24 anos. Após a queda nos trilhos, uma composição passou por cima dos dedos do entregador. Todos os dedos do pé esquerdo do trabalhador nascido em Bangladesh foram decepados. O trem o atingiu com tanta força que deslocou seu quadril, fraturou sua pélvis e o deixou com traumatismo craniano e fraturas na coluna, segundo o processo.
Em tribunal de Nova York, Maruf declarou que precisará de cuidados médicos constantes pelo resto da vida, além de ajuda em casa com tarefas domésticas.
O processo original pedia indenização de R$ 110 milhões, mas Metropolitan Transportation Authority(MTA), empresa pública que opera o sistema metroviário, ofereceu um acordo, pagando cerca de R$ 550 mil, contou o “NY Post”.
“Após anos em que a MTA tentou me forçar a um acordo injusto, o júri percebeu suas mentiras e me deu uma segunda chance de viver uma vida normal”, disse Maruf.
Seu advogado, Nick Liakas, acrescentou que o caso “destaca os esforços que a MTA fará para se esquivar de sua responsabilidade para com nova-iorquinos inocentes”.
“O cliente tropeçou num defeito na parte amarela de uma plataforma de trem muito estreita”, acrescentou ele.
No processo, o advogado da MTA sustentou a tese de que Maruf tinha pulado na frente do trem.
Um exame psiquiátrico foi realizado em Maruf, internado no Hospital Jacobi, três dias após o incidente. Os paramédicos relataram inicialmente que ele parecia ter caído ou pulado nos trilhos.
“Eu não tentei me matar, não, nunca”, insistiu o entregador ao médico, de acordo com o exame arquivado como prova judicial.
O exame observou que Hossain se lembrava de estar em jejum para o Ramadã naquele dia e de como a plataforma do trem estava lotada enquanto tentava ir trabalhar num restaurante em Lower Manhattan.
“Não sei como caí. Sei que não pulei nem tentei me matar, não, de jeito nenhum”, garantiu ele.
Ele não tinha histórico psiquiátrico documentado nem problemas com abuso de substâncias, afirmou um médico em documentos judiciais. Maruf afirmou ao psiquiatra destacado para o caso que não sofria de depressão. Ele disse que veio de Bangladesh para os EUA cinco anos antes com planos de se tornar cidadão americano.
“Estou ganhando US$ 1.000 por semana. Estou feliz. Planejando me casar no ano que vem”, disse ele à época, acrescentando que não tinha filhos.
O psiquiatra Nabil Karroum disse que Hossein “parece bem ajustado” e não notou sinais de tendência suicida, refutando a tese do advogado da MTA.
Maruf conseguiu a cidadania americana.