As Forças de Defesa de Israel (IDF) admitiram nesta segunda-feira (30) terem matado civis palestinos nas filas dos centros de distribuição da Fundação Humanitária de Gaza (FHG). Resultado da investigação iniciada na última sexta-feira (27), Tel Aviv reconheceu que houve mortos e feridos, mas afirmou que o grupo terrorista Hamas divulga números exagerados.
Somente nesta segunda, o Ministério da Saúde local, controlado pela facção, relatou ao menos 58 mortes em mais uma onda de ataques israelenses. Até o fim da última semana, o órgão contabilizou pelo menos 549 mortos, 3.799 feridos e outros 39 desaparecidos. No mesmo período, órgãos da ONU —sem verificação in loco devido às dificuldades logísticas— confirmaram a veracidade e falaram em ao menos 410 mortes nessas circunstâncias.
As forças de Tel Aviv abriram uma investigação na sexta para apurar se militares do país atiraram contra palestinos desarmados nas filas da FHG depois que uma reportagem do jornal israelense Haaretz, crítico ao governo de Netanyahu, ouviu de soldados e oficiais em Gaza que havia ordens superiores para disparar contra civis, mesmo quando não havia situação clara de risco.
No anúncio desta segunda, as forças israelenses defenderam que somente usam força letal quando uma ameaça é imposta contra seus agentes. Mesmo com essa diretriz, segundo as IDF, houve pelo menos três episódios trágicos em que executaram bombardeios de artilharia próximo aos centros de ajuda na tentativa de impedir o acesso da população a zonas fora dali.
Nesses casos, diz Israel, os bombardeios foram “imprecisos” e vitimaram de 30 a 40 pessoas, entre as quais várias morreram. Os militares afirmaram que estas mortes “não precisavam ter acontecido”, e não tinham o objetivo de atingir civis.
Israel afirmou que todos os casos relatados de vítimas civis foram investigados e, em consequência, as forças “reorganizaram as rotas de acesso” aos centros de distribuição, e trabalham para melhorar a infraestrutura, a sinalização e os anúncios para os locais de ajuda.
Segundo as IDF, no momento não há nenhum processo de triagem dos palestinos que chegam aos postos —como o reconhecimento facial previamente relatado como perigoso por grupos humanitários, e que muitos palestinos temem que acabe sendo usado para rastreá-los e possivelmente atacá-los. Nas próximas semanas, as forças pretendem implementar um processo para tal, em paralelo à abertura de novos centros.
Tel Aviv afirmou que “lições foram aprendidas” e anunciou o fechamento de um dos postos —de Tel al-Sultan— enquanto outro novo é construído. A medida, segundo as forças, visa “reduzir o atrito com a população e manter a segurança das forças no terreno”.
Ainda nesta segunda, Avichay Adraee, um porta-voz do Exército de Tel Aviv, afirmou na rede social X que, sob a justificativa de “destruir capacidades de organizações terroristas”, as operações militares iriam “se estender para oeste até o centro da cidade”.
A área no sul de Gaza para onde os moradores foram direcionados está superlotada. Antes mesmo de o atual conflito eclodir, o território já era um dos mais densos do mundo; agora, após praticamente todos os habitantes terem se deslocado internamente em 20 meses de bombardeios, as áreas supostamente seguras estão ainda mais sobrecarregadas.
Palestinos no norte de Gaza relataram uma das piores noites de bombardeios israelenses em semanas. “As explosões não pararam; eles bombardearam escolas e casas. Parecia um terremoto”, disse à agência de notícias Reuters Salah, 60, pai de cinco filhos e morador da Cidade de Gaza. “Nas notícias ouvimos que um cessar-fogo está próximo, no terreno vemos morte e ouvimos explosões.”
Parte dos que agora se deslocam novamente para o sul havia voltado para o norte no cessar-fogo que vigorou entre janeiro e março deste ano. Desde o fim da trégua, mais de 684 mil pessoas foram deslocadas, de acordo com um órgão liderado pela Acnur, a agência da ONU para refugiados.