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EUA: Conservadorismo atrai mais mulheres jovens – 29/06/2025 – Mundo

“Vou dizer isto a vocês, senhoras”, disse Dana Loesch, ex-porta-voz da Associação Nacional de Rifles, enquanto caminhava pelo palco de um salão de festas na cidade de Dallas, nos Estados Unidos. “Vocês não podem ter tudo ao mesmo tempo. Alguma coisa vai sofrer.”

A plateia de aproximadamente 3.000 mulheres jovens ouvia, fascinada. Elas usavam broches com frases como “Termine com seu namorado socialista” e “Minha estação favorita é a queda do feminismo“.

Quando Loesch saiu do palco e entraram Charlie e Erika Kirk, estrelas do mundo de Donald Trump, as mulheres jovens se aproximaram do microfone, uma a uma, para pedir conselhos sobre como encontrar um marido, como criar filhos cristãos e o que dizer às amigas que as julgavam por querer casar cedo.

Foi o maior evento de mulheres jovens conservadoras do país, organizado pela Turning Point USA, a organização que Kirk lidera e que teve papel crucial na mobilização de eleitores para o presidente Trump. A maioria das participantes foi à Cúpula de Liderança de Jovens Mulheres não para receber conselhos sobre como liderar, mas sobre como viver. Elas receberam ordens claras.

“Menos Prozac, mais proteína”, disse Alex Clark, uma influenciadora de bem-estar e apresentadora de podcast que foi a principal atração. “Menos esgotamento, mais bebês, menos feminismo, mais feminilidade.”

Muitas participantes foram criadas em lares conservadores. Outras representavam um novo eleitorado político: moldadas politicamente pela ascensão de Trump e abaladas emocionalmente pela pandemia, elas começaram a ouvir influenciadoras de bem-estar como Clark, cujas vozes se tornaram uma porta de entrada para o movimento político conservador.

Rhaelynn Zito é uma dessas convertidas ao conservadorismo. Zito é uma enfermeira de 25 anos que vive em Raleigh, na Carolina do Norte. Em 2023, ela disse, teve um ano realmente difícil. Passou por um término de relacionamento, perdeu um membro da família e estava buscando um propósito fora do trabalho.

Zito começou a ouvir Clark, cujo programa da Turning Point USA frequentemente está entre os dez principais podcasts de saúde no Spotify.

Ouvir Clark, disse Zito, mudou sua vida. Ela iniciou um grupo de estudo bíblico, reduziu o consumo de álcool e parou de ter encontros casuais enquanto se concentrava em encontrar um marido.

Ela ainda suspendeu os anticoncepcionais, adotando um método natural de planejamento familiar recomendado no programa de Clark, e passou a duvidar de abortos e vacinas. Zito não se identifica mais como feminista.

“O que me introduziu em tudo isso foi o movimento MAHA”, disse Zito, referindo-se à agenda “Make America Healthy Again” (Torne a América Saudável Novamente), defendida por influenciadoras como Clark e agora liderada no governo Trump pelo secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr. “Eu me vejo mais conservadora do que jamais fui antes.”

Após a eleição de 2024, quando homens jovens penderam para Trump, comentaristas políticos começaram uma análise frenética e quase antropológica da “manosfera”, o ecossistema de podcasters que direcionaram jovens homens para o voto republicano.

Menos em foco estavam as mulheres jovens —um grupo demográfico com tendência à esquerda, mas cujo apoio a Trump também aumentou, de acordo com pesquisas pós-eleição. Algumas também foram influenciadas pelo que tem sido rotulado como “esfera feminina” de podcasters extremamente populares que misturam conselhos sobre estilo de vida e política.

Clark, que ajudou a organizar o encontro, compartilhou sua teoria sobre as muitas mulheres que estão aderindo ao seu grupo. “Com base no MAHA, elas estão sendo ‘redpilled’ [despertadas para a realidade] e agora estão aparecendo no maior evento conservador de mulheres do país”, disse Clark.

O que as mulheres estão encontrando em plataformas MAHA como a da Clark é uma nova vida, que a influenciadora resumiu no palco, para aplausos estrondosos: “Estamos cansadas de fingir que um cubículo é mais empoderador que um balcão de cozinha”, disse ela à multidão.

Esta revolução política, em outras palavras, não está apenas começando em casa, mas permanecendo em casa.

“As pessoas dizem: ‘Charlie, como é o sucesso para o movimento político MAGA?'”, disse Kirk. Sua resposta: O sucesso para o MAGA seria se as mães ficassem em casa. No sábado, para aplausos ruidosos, ela declarou: “Deveríamos trazer de volta a celebração do diploma de senhora”.

Logo antes de voar para Dallas, Zito percebeu que era hora de contar aos seus amigos próximos e familiares que se identificava como conservadora. Afinal, eles poderiam vê-la publicando fotos da conferência do Turning Point no Instagram.

Zito se preparou e ligou para sua avó, uma pastora metodista liberal em Nova Jersey. “Sou moderadamente conservadora!” (Ela disse que sua avó não fez alarde, querendo principalmente que ela fosse feliz.)

A pandemia, para muitas mulheres na conferência, tinha sido um momento de ruptura, de questionamento de crenças preexistentes. Elas estavam presas em casa, isoladas, incertas sobre seus futuros e, em alguns casos, angustiadas com os lockdowns e protestos em suas comunidades. Então, começaram a buscar novas perspectivas políticas.

Vina Pham, 23, que vive em Baton Rouge, é uma das jovens mulheres que teve uma mudança política durante a pandemia.

Pham tomou a vacina contra Covid, mas estava cética quanto ao incentivo para tomar doses de reforço, perguntando: “Realmente precisamos disso?”

Ela havia se oferecido para pagar pelo aborto de alguém que conhecia, e quando essa pessoa decidiu, em vez disso, ter o bebê, Pham mudou sua posição, agora se opondo ao aborto em muitos casos. (Ela disse que também foi influenciada pelo vídeo “Baby Olivia”, feito por um grupo antiaborto, que alguns estados estão tentando tornar visualização obrigatória nas escolas.)

“Sou uma conservadora secreta”, disse Pham, embora tenha consentido em compartilhar suas opiniões ao jornal The New York Times, sentindo que era hora de ser mais franca. “Meus amigos perguntam: ‘Por que você está em Dallas?’ Eu respondo: ‘Estou em uma conferência de mulheres.'”

Circulando entre as multidões da conferência, ela conheceu outras mulheres jovens que haviam sido encorajadas por influenciadores conservadores a refazer suas vidas. Como Kate Salerno, 27, que vive em Denton, no Texas, e disse que soube da conferência através de Clark.

Salerno começou a assistir a videoclipes de Clark no Instagram durante a pandemia. Ela disse ao marido que estava se livrando dos óleos vegetais e corantes alimentares. Também vasculhou os armários e jogou fora doces. Ela decidiu não tomar a vacina contra Covid.

“Todas essas portas se abriram quando descobri sobre a comida”, disse ela. “Basta apenas uma voz para começar a descer por uma toca de coelho.”

Fonte: Folha de São Paulo

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