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Gaza: Israel apura se soldados atiraram em fila por comida – 27/06/2025 – Mundo

As Forças Armadas de Israel abriram uma investigação nesta sexta (27) para apurar se soldados do país atiraram contra palestinos desarmados em fila para obter comida na Faixa de Gaza, o que configura crime de guerra.

No último mês, se multiplicaram relatos de ataques contra concentrações de palestinos do território, que só tem numa nebulosa organização bancada por Israel e os Estados Unidos, a FHG (Fundação Humanitária de Gaza), fonte para obter alimentos durante o bloqueio imposto por Tel Aviv desde que o cessar-fogo entre o Estado judeu e grupo terrorista Hamas colapsou, no fim de março.

Nesta sexta, o jornal israelense Haaretz, que adota uma linha crítica ao governo de Binyamin Netanyahu, publicou uma reportagem com relatos chocantes atribuídos a soldados e oficiais que atuam em Gaza. Segundo eles, a ordem para atirar nos civis veio de cima.

Segundo o governo de Gaza, controlado ainda pelo Hamas, 549 pessoas foram mortas na região desde 27 de maio, elevando a mais de 56 mil o número total de vítimas —número contestado por Israel por não diferenciar civis de terroristas. O período coincidiu com o ataque de Israel, ajudado depois pelos EUA, ao Irã, que desviou completamente o foco do noticiário da crise humanitária em Gaza.

Um dos soldados ouvidos pelo Haaretz disse que o uso de munição fatal contra multidões foi determinado, independentemente de haver ameaças. Ele chamou a Gaza de um “campo de extermínio”, termo com especial ressonância no Estado judeu, formado após o Holocausto nazista.

Netanyahu rebateu o relato com outra terminologia simbólica: o chamou de “libelo de sangue”, como os judeus costumam chamar acusações que consideram baseadas em antissemitismo, numa referência à antiga crença medieval de que os aderentes da religião usavam sangue de cristãos em rituais.

O ministro da Defesa, Israel Katz, foi na mesma linha. Ele e a chefia do Exército negaram ter dado qualquer ordem do tipo, mas também determinaram a investigação.

O caso agitou Israel, ainda vivendo o “feelgood factor” de ter tido uma vitória militar sobre o Irã, ainda que tanto a teocracia como seus rivais digam ter saído vencedores. O premiê viu sua aprovação e chances eleitorais subirem em pesquisas. A volta do foco a Gaza renova a pressão sobre Netanyahu, dada a catástrofe em curso.

FOCO EM GAZA PRESSIONA TEL AVIV

Israel atacou o território após o mega-ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro de 2023. Ainda há 50 dos 255 reféns tomados pelos palestinos naquele dia em poder do grupo, com 28 deles já declarados mortos.

O Hamas, como governo e organização com poder militar, foi desmantelado, assim com o aliado regional Hezbollah no Líbano depois e, em menor escala, o próprio Irã, patrono de ambos, agora. Mas Netanyahu continuou sua guerra, mesmo sem conseguir resgatar os cativos remanescentes.

Chegou a estabelecer um cessar-fogo com o Hamas na véspera da posse do aliado Donald Trump, em janeiro, mas o arranjo desandou. Seus críticos dizem que ele precisa manter o conflito para reter apoio da direita radical religiosa que sustenta o seu governo e, por ora, vem atrasando seu julgamento por corrupção.

Seja como for, desde então, Tel Aviv faz um bloqueio que organizações internacionais denunciam como uma tentativa de asfixiar a região por meio de fome. Apenas uma entidade privada, a FHG, pode operar lá dentro. A ONU considera sua ação irrisória e, a essa acusação, agora há questão dos massacres de civis esfomeados.

O secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, disse nesta sexta que a operação do órgão é “inerentemente insegura” e está “matando pessoas”. “As pessoas estão sendo mortas por tentar alimentar suas famílias. Buscar comida nunca deve ser uma sentença de morte”, afirmou.

A fundação, desconhecida até então, surgiu como fonte quase única de comida quando o bloqueio total de 11 semanas foi levantado por Israel, em 19 de maio. Alguma ajuda da ONU também entrou, mas em menor quantidade.

A entidade nega as acusações. “É uma pena que a ONU continue a promover informação falsa sobre nossas operações”, disse o grupo, em nota. A FHG tem apoio logístico de empresas privadas de segurança americanas, e o governo Trump aprovou uma doação de US$ 30 milhões para ela nesta semana.

TRUMP E NETANYAHU QUEREM PAZ EM SEUS TERMOS

Enquanto o drama se desenrola, Israel e os EUA sem mexem para tentar uma acomodação maior na região após a guerra contra o Irã. Na segunda, uma comitiva israelense irá à Casa Branca para debater os termos.

Tanto Netanyahu quanto o negociador-chefe de Trump, Steve Witkoff, deram declarações vagas dizendo que uma nova arquitetura de paz regional está prestes a emergir dos conflitos, dando sequência aos Acordos de Abraão —nome que remete à figura comum na história do judaísmo, cristianismo e islamismo.

Firmados no primeiro governo do republicanos, eles selaram a paz entre Israel e diversos adversários, do Marrocos aos Emirados Árabes Unidos. O 7 de Outubro interrompeu a joia da coroa do processo, um tratado com a Arábia Saudita, adversária regional do Irã.

Segundo relatos na mídia israelense, o governo Netanyahu quer avançar com isso agora, aproveitando a fragilidade de Teerã e a demonstração de força de Tel Aviv e Washington, e sonha em ver não só os sauditas, mas a vizinha Síria no pacote.

Governada por uma família anti-Israel por meio século até o ano passado, a Síria era o centro logístico do Irã na região.

Agora, tem no poder uma frágil aliança de rebeldes islâmicos surgidos de nada menos que a rede terrorista Al Qaeda, mas que vendem moderação para se relacionar com o Ocidente —Netanyahu mesmo operou de outra forma, ocupando faixas no sul do país para ter profundidade estratégica e poder de barganha.

Fonte: Folha de São Paulo

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