spot_img
HomeMundoParada LGBT vira protesto contra Orbán na Hungria - 27/06/2025 - Mundo

Parada LGBT vira protesto contra Orbán na Hungria – 27/06/2025 – Mundo

Lau e Vivi, um jovem casal lésbico da Hungria, costumam andar de mãos dadas pelas ruas de Budapeste. Desde que o governo intensificou sua campanha anti-LGBTQIA+, porém, Lau começou a se preocupar com essa demonstração de afeto.

O ultradireitista Viktor Orbán, premiê da Hungria, se apresenta como defensor do que ele chama de valores cristãos contra o progressismo ocidental e tem entre seus apoiadores principalmente conservadores rurais. Na última década, ele aprovou várias leis que afetam a vida da comunidade LGBTQ+ do país.

Elas incluem a proibição de mudança de gênero em documentos pessoais, uma legislação que efetivamente impede a adoção por casais do mesmo sexo e regras que proíbem o uso de materiais nas escolas vistos como promotores da homossexualidade e da transição de gênero.

Mais recentemente, em março, o Parlamento aprovou uma lei que criou base legal para a polícia proibir as marchas do orgulho, eventos fundamentais para a comunidade LGBT+ em todo o mundo na campanha por direitos, celebração da diversidade e combate à discriminação. O Fidesz, partido de Orbán, disse que esses atos poderiam ser prejudiciais às crianças e, portanto, protegê-las deveria se sobrepor ao direito de reunião.

“De alguma forma, inconscientemente, comecei a pensar se deveria ousar segurar a mão de Vivi na frente de uma criança agora”, diz Laura Toth, 37, DJ e técnica de som que trabalha na vibrante cena de clubes de Budapeste. “Isso não significa que não vou segurar a mão dela agora, mas algo começou a funcionar dentro de mim.”

Sua parceira, Vivien Winkler, 27, diz que é surreal que elas sintam que estão fazendo algo errado por se abraçarem ou beijarem na rua, pois estão apaixonadas e poderiam até se casar no futuro —embora em outro país. A Hungria nunca permitiu o casamento gay, apenas uniões civis.

O casal se apaixonou há dois anos. Com seu cachorro, elas se mudaram para um apartamento aconchegante cheio de livros e fotos e montaram um pequeno estúdio em um dos cômodos, onde Lau faz sua própria música. Ela está prestes a lançar uma faixa que chama de “uma canção de amor queer”.

Junto com o amor, elas também encontraram verdadeira inspiração uma na outra.

“Este LP é sobre minha história pessoal de quando saí do armário”, disse ela com um sorriso cúmplice, já que a trajetória para ela não foi fácil, crescendo em uma cidade no leste da Hungria. Com a ajuda de terapia, ela finalmente se assumiu há cerca de três anos primeiro para sua avó, que foi mais receptiva que seus pais. Vivien teve uma experiência semelhante com seus avós em Budapeste, que foram muito rápidos em acolher Lau como membro da família.

Elas são felizes juntas e ambas tocam regularmente como DJs em clubes, mas sentem que o ar está ficando mais rarefeito para pessoas LGBT+. “Estamos continuamente discutindo que talvez precisemos nos mudar para o exterior no próximo ano”, diz Vivien.

Ambas participaram de marchas do orgulho antes, mas disseram que a deste ano será especialmente importante.

Em fevereiro, Orbán disse a seus apoiadores que os organizadores da marcha “nem deveriam se incomodar” em planejar o evento este ano. Alguns viram isso como uma tática para manter os votos conservadores —em 2026 ele enfrentará eleições e um novo partido de oposição representa um sério desafio ao seu governo.

“Defendemos o direito dos pais de decidir como seus filhos são criados, e contivemos visões e modas que são contra a natureza”, disse o líder em maio.

A aprovação da nova lei permitiu que a polícia proibisse na semana passada a 30ª Marcha do Orgulho, marcada para 28 de junho. No entanto, o prefeito progressista de Budapeste disse que a marcha será realizada nessa data de qualquer maneira, como um evento municipal celebrando a liberdade, permitindo contornar a proibição.

Mais de 30 embaixadas estrangeiras, incluindo as de França, Alemanha e Reino Unido, apoiaram o evento —a dos Estados Unidos, governados por Trump, não faz parte da lista. “A marcha não pedirá permissão: este é um protesto”, disseram os organizadores do ato em Budapeste.

Laszlo Laner, 69, foi organizador da primeira marcha do orgulho da cidade, em 1997, e desempenhou um papel ativo no movimento gay da Hungria após o colapso do regime comunista, em 1989. “Acho que teremos a maior multidão até agora, não apenas de pessoas LGBT+ e simpatizantes, mas também daqueles que marcham por democracia, liberdade de expressão e pelo direito de se reunir”, diz.

Os húngaros eram majoritariamente receptivos à comunidade LGBT+, afirma. Um levantamento do instituto Median de novembro de 2024, feito para um grupo LGBT+ húngaro chamado Hatter, mostrou que 53% da população diziam ser aceitável que dois homens se apaixonassem, e 57% disseram o mesmo sobre duas mulheres. Cerca de 49% apoiariam o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

As pessoas na Hungria são muito menos negativas em relação às pessoas LGBT+ do que o governo está tentando sugerir, diz Zsolt Hegyi, 57, que é gay e nunca participou da marcha, mas se juntará ao ato agora. Segundo ele, eventos como esse podem ajudar pessoas que lutam para aceitar seus sentimentos a se abrirem. “Elas podem receber algum encorajamento de que o mundo não vai desabar após sair do armário”, diz.

A cultura ballroom, que se originou como um espaço seguro e inclusivo para indivíduos LGBT+ negros e latinos em Nova York, também oferece um espaço seguro em Budapeste com seus bailes regulares, onde os participantes competem com danças em várias categorias.

Na Turbina, um espaço artístico e comunitário inclusivo no coração de Budapeste, mais de 100 pessoas se reuniram no dia 15 de março para um evento de ballroom, onde os participantes vestiram trajes inspirados em personalidades queer icônicas. Iulian Paragina, da Romênia, um técnico dentário que vive em Budapeste há quatro anos, atuou como mestre de cerimônias e também dançou.

“Como pessoa queer, um dos maiores desafios é simplesmente ter a coragem de viver autenticamente”, disse Iulian. “Pessoalmente, eu costumava me sentir relativamente seguro em Budapeste, até certo ponto. Hoje, nossas vozes estão sendo silenciadas, seja através da proibição da marcha, limitando a liberdade de expressão ou promovendo narrativas prejudiciais.”

A erosão gradual dos direitos LGBT+ teve um efeito intimidador na comunidade, diz Armin Egres Konig, 25, que é trans e não-binário e trabalha como assistente social para o grupo de direitos Hatter. Konig foi pessoalmente afetado pela lei de 2020 que impossibilitou pessoas transgênero de legalmente mudarem seu gênero.

Konig diz ter encontrado uma comunidade inclusiva e acolhedora na universidade, mas afirma que ser trans pode ser difícil na vida cotidiana. “No mundo lá fora é muito difícil ser uma pessoa trans, e eu enfrento assédio na rua”, afirma.

Fonte: Folha de São Paulo

RELATED ARTICLES

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

- Advertisment -spot_img

Outras Notícias