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Aumento de gastos com defesa vai remodelar a economia – 27/06/2025 – Mercado

Pela primeira vez em décadas, o mundo rico está embarcando em um rearmamento em massa. As guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, a ameaça de conflito em Taiwan e a abordagem impulsiva do presidente Donald Trump em relação às alianças tornaram o fortalecimento da defesa nacional uma prioridade urgente.

Em 25 de junho, os membros da Otan concordaram em aumentar sua meta de gastos militares para 3,5% do PIB, e alocaram 1,5% adicional para itens relacionados à segurança (a Espanha insistiu em uma brecha).

Se atingirem essa meta em 2035, estarão gastando US$ 800 bilhões a mais por ano, em termos reais, do que gastavam antes da invasão russa na Ucrânia. O boom vai além da Otan. Segundo uma estimativa, Israel, em situação de guerra, gastou mais de 8% de seu PIB em defesa no ano passado. Até mesmo o pacífico Japão planeja investir mais.

Somas tão vastas poderiam remodelar a economia global, pressionando as finanças públicas e deslocando atividades dentro dos países. Enquanto os políticos vendem os benefícios do rearmamento aos eleitores, muitos afirmarão que os gastos militares trarão ganhos econômicos além da segurança.

Keir Starmer, primeiro-ministro britânico, promete que a defesa oferecerá “a próxima geração de empregos bons, seguros e bem remunerados”. A Comissão Europeia diz que trará “benefícios para todos os países”. Por mais tentadores que sejam politicamente, tais argumentos estão errados. Usar gastos de defesa para objetivos econômicos seria um erro custoso.

A consequência econômica mais óbvia de orçamentos de defesa maiores será pressionar as finanças públicas. As dívidas já estão altas e as pressões financeiras sobre os governos, causadas pelo envelhecimento das populações e taxas de juros mais altas, estão aumentando. O membro médio da Otan, excluindo os Estados Unidos, precisará aumentar os gastos anuais com defesa em 1,5% do PIB.

Como resultado, outras partes do orçamento, como gastos sociais, serão comprimidas, reduzindo o “dividendo da paz” obtido com o fim da Guerra Fria. E cortar gastos ou aumentar impostos no valor total provavelmente será politicamente impossível, o que significa que muitos governos também terão déficits mais altos.

Os gastos com defesa, portanto, tenderão a elevar as taxas de juros e tornar as finanças públicas mais frágeis, mesmo enquanto tornam os países mais seguros contra seus inimigos.

Quais são as consequências para o crescimento? Gastos financiados por déficit fornecerão um estímulo fiscal keynesiano, mas é provável que seja modesto —e indesejado em um momento de baixo desemprego e inflação persistente no mundo rico. Além disso, os gastos com defesa são caros e não elevam diretamente o padrão de vida de ninguém.

A pesquisa e o desenvolvimento em defesa, por outro lado, poderiam ser mais benéficos. A inovação financiada publicamente frequentemente tem o efeito de estimular a inovação privada; segundo uma estimativa recente, quando P&D de defesa representa 1% adicional do valor agregado de uma indústria, seu crescimento anual de produtividade aumenta em 8,3%.

Basta pensar na internet ou na energia nuclear, ambas surgidas de pesquisas militares.

Os gastos com armamentos também deslocarão a demanda pela economia. Os políticos esperam que isso possa contrariar os efeitos da desindustrialização, mas provavelmente ficarão desapontados. A produção de defesa, como grande parte da manufatura, agora é muito especializada e automatizada, o que significa que o rearmamento provavelmente criará muito menos empregos do que os que estão sendo perdidos para novas tecnologias ou competição estrangeira.

Segundo uma estimativa, o aumento dos gastos com defesa nos países europeus da Otan poderia criar 500 mil empregos —um número insignificante quando comparado aos 30 milhões de trabalhadores da indústria da UE.

A natureza da guerra moderna torna a criação em massa de empregos ainda menos provável. A Ucrânia mostra que um país não precisa de uma política industrial ampla para se preparar para a guerra. A fabricação de drones, que estão causando a maioria das baixas no campo de batalha, é relativamente simples.

E quanto mais a inteligência artificial se torna importante, por exemplo, na orientação e operação desses drones, menos empregos são criados nas linhas de montagem e mais rendas são acumuladas pelas empresas de tecnologia.

Grandes orçamentos de defesa apresentarão aos governos dilemas entre segurança, eficiência e equidade. À medida que os orçamentos crescem, autoridades locais, empresas e sindicatos podem defender que o dinheiro flua em sua direção. Mas ceder seria um erro.

Um dos problemas com os gastos de defesa da Europa é que muitos países querem fabricar seu próprio equipamento. Os países da UE operam 12 tipos de tanques de batalha, por exemplo, enquanto os Estados Unidos produzem apenas um. A duplicação é um desperdício e dificulta a cooperação entre os exércitos.

Os governos não têm deveres mais importantes do que manter seus cidadãos seguros. A fragilidade das finanças públicas significa que eles precisarão ser o mais eficientes possível na forma como gastam o dinheiro dos contribuintes.

Gastar dinheiro em locais e setores favorecidos só levará a mais aumentos de impostos ou cortes nos gastos sociais. Para ter sucesso no rearmamento, os governos precisarão apresentar aos eleitores um argumento sincero para gastar em nome da segurança.

Se tentarem realizar tudo com um único orçamento, não farão nada bem. Não há sentido em impulsionar o crescimento se a consequência for uma invasão.

Texto da The Economist, traduzido por Gustavo Soares, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com

Fonte: Folha de São Paulo

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