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EUA: Harvard debate como fechar acordo com governo Trump – 26/06/2025 – Mundo

A Universidade Harvard, abalada por um conflito devastador com o governo de Donald Trump que colocou em risco seu status de instituição de elite, lida com um problema ao considerar uma possível trégua com o presidente: como fechar um acordo sem comprometer seus valores ou parecer que capitulou.

O dilema tem atormentado escritórios de advocacia, empresas de tecnologia e mídia, e até mesmo uma das universidades da Ivy League, o grupo de elite das instituições de ensino superior dos EUA.

Segundo três pessoas familiarizadas com as deliberações da universidade, o tema está moldando debates internos em torno das conversas recentemente retomadas da instituição com o governo. Elas falaram sob condição de anonimato porque não queriam ser identificadas discutindo negociações que deveriam ser privadas.

Diferentemente de muitas outras instituições poderosas que fecharam acordos com Trump, a Universidade Harvard, a mais antiga e rica do país, passou grande parte dos últimos meses como a vanguarda da resistência à Casa Branca, sendo reconhecida por líderes acadêmicos, ex-alunos e ativistas pró-democracia por enfrentar o governo e servir como uma barreira contra o autoritarismo.

Apesar de uma série de vitórias legais contra o governo, no entanto, os dirigentes de Harvard concluíram nas últimas semanas que esses resultados sozinhos podem ser insuficientes para proteger a instituição.

As discussões internas em Harvard são tensas porque, entre os pontos de discórdia com a Casa Branca de Trump, estão questões relacionadas a admissões, contratações e diversidade de pontos de vista.

As universidades consideram as admissões e contratações como especialmente críticas para a liberdade acadêmica —um pilar que a supervisão governamental poderia diluir, comprometendo a independência e infringindo proteções constitucionais à liberdade de expressão. E os dirigentes de Harvard estão bem cientes de que um acordo com o governo Trump sobre qualquer coisa relacionada à independência acadêmica poderia provocar raiva em um corpo docente já ansioso.

Também pairando sobre um potencial acordo entre o presidente e Harvard estão as medidas que algumas das instituições mais poderosas do país fizeram após a eleição de Trump em novembro.

Uma a uma, seja um escritório de advocacia buscando contornar um decreto ou uma organização de notícias resolvendo um processo de Trump, instituições fecharam acordos, e algumas pessoas tiveram a percepção de que estavam colocando lucros à frente de seus princípios. Foram ridicularizadas e descritas como oportunistas que capitularam, um destino que os dirigentes de Harvard estão ansiosos para evitar na prática ou na percepção.

Lawrence Summers, ex-presidente de Harvard que tem sido crítico da cultura da universidade, sugeriu em entrevista na segunda-feira (23) que um acordo, por si só, não deveria ser visto como uma rendição. Um acordo cuidadosamente elaborado, disse ele, poderia ajudar a reparar alguns dos problemas da universidade enquanto preserva sua independência e rigor.

Se não houvesse mudanças concebíveis para a universidade fazer que satisfizessem o governo, ele disse, poderia não haver valor nas negociações. Mas, afirmou Summers, “não ouço ninguém em Harvard dizendo que Harvard não precisa trabalhar na diversidade de perspectivas.”

Harvard se recusou a comentar. Em declaração na semana passada, depois que um juiz federal concedeu à universidade outra vitória legal temporária, um porta-voz disse que a instituição continuaria a “defender seus direitos —e os direitos de seus estudantes e acadêmicos.”

A tensão entre Harvard e Trump remonta principalmente a uma carta que o governo enviou por engano à universidade em 11 de abril, propondo uma série de exigências intrusivas, incluindo algumas relacionadas à liberdade acadêmica.

Após a recusa de Harvard, o governo iniciou uma cruzada crescente contra a universidade que incluiu o corte de bilhões de dólares em financiamento de pesquisa e um esforço prolongado para impedir que a instituição matriculasse estudantes internacionais.

Mas a carta de abril mostra a extensão em que o governo pretende mudar Harvard e está estimulando debates no campus sobre como a instituição deve responder a Washington.

No documento, o governo disse que Harvard precisaria se submeter a auditorias governamentais relacionadas às admissões para garantir que estivessem vinculadas ao mérito e não à raça, origem nacional ou “substitutos destes”. Fez exigências semelhantes relacionadas à contratação.

O governo também pressionou a universidade a tomar medidas para garantir o que descreveu como “diversidade de pontos de vista” e que não houvesse “testes ideológicos”.

Muitos na academia, seja em Harvard ou em outros lugares, consideram que um papel intrusivo do governo nas admissões e contratações representa uma linha vermelha que não deve ser cruzada.

Um grupo de ex-alunos de Harvard, Crimson Courage, escreveu na segunda ao presidente da universidade, Alan Garber, instando-o a manter sua afirmação, feita neste mês, de que “nenhum governo deveria ditar o que ensinamos, quem admitimos e contratamos, e quais áreas de estudo e investigação eles podem seguir.”

“Manter-se firme não é meramente um exercício operacional: é um imperativo moral”, disse o grupo a Garber e outros líderes universitários. “O mundo está observando e precisa da liderança e coragem de Harvard agora. O status de Harvard como líder global no ensino superior seria dizimado se Harvard comprometesse esses ideais.”

Fonte: Folha de São Paulo

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