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Desde o início das hostilidades entre Israel e Irã, analistas políticos e autoridades mundo afora têm se perguntado como a China pretende reagir diante das evidentes ameaças para a sua segurança energética. Durante anos, Pequim se aproveita das sanções americanas ao petróleo iraniano, que é comprado pelos chineses.
Com a escalada no conflito após o bombardeio americano, porém, o Irã ameaçou fechar o Estreito de Ormuz, por onde passam 20% das remessas de petróleo para o mundo e 50% do que a China importa da commodity.
O risco elevado de desestabilização fez a Casa Branca apelar publicamente para que os chineses convencessem os iranianos a não seguir com o plano. A reação de Pequim, porém, foi diferente: determinou que embarcações chinesas passando pela localidade ligassem pelo menos uma vez ao dia para as empresas-sedes na China para confirmarem paradeiro e integridade dos tripulantes.
As regras foram anunciadas pela Associação de Armadores da China, um braço do Ministério de Transportes, na segunda (23). De acordo com as novas diretrizes, será necessário enviar detalhes específicos dos navios que transitam não só por Ormuz, mas também pelos golfos Pérsico e de Omã.
As empresas devem fornecer à associação nomes dos navios, números de registro, tipo, bandeiras, capacidades, portos de partida e destino, tempos de viagem planejados, tamanho da tripulação e movimentos diários pela região.
A ação sugere que a diplomacia possivelmente tentará garantir salvaguarda às próprias embarcações, mas não vai se movimentar para negociar a abertura irrestrita da passagem para todos os países.
Por que importa: se confirmada, a manobra emula o que Pequim já tinha feito no ano passado quando, diante dos ataques houthis (uma milícia iemenita apoiada pelos iranianos) a embarcações no mar Vermelho, usou seu capital diplomático com o Irã para proteger os seus.
A decisão irritou o governo Biden à época, que contava com a proximidade dos chineses com Teerã para garantir a segurança dos navios dos EUA.
pare para ver
“Navio chinês chega a Nagasaki”, uma pintura de autor desconhecido e provavelmente produzida em torno de 1840. A tela está atualmente exposta no Museu Metropolitano de Arte de Nova York.
o que também importa
★ Cientistas chineses anunciaram a criação de um laser de fibra de 2 kW capaz de operar sem refrigeração em variações de temperatura de 100 °C. Desenvolvido pela Universidade Nacional de Defesa, o dispositivo portátil rompe uma limitação antiga, eliminando a necessidade de sistemas de resfriamento e transporte pesado. Baseada em itérbio e design óptico avançado, a tecnologia mantém eficiência e qualidade do feixe em extremos climáticos, abrindo caminho para usos militares e industriais antes restritos por logística e controle térmico.
★ A batalha dos brinquedos de pelúcia ganhou um novo competidor: após o sucesso do Labubu, do designer honconguês Lung Ka‑sing, a nova febre na China são os Fugglers, “monstros feiosos” com dentes humanos e olhar perturbador criados pela britânica Louise McGettrick. Os bonecos ganharam destaque no RedNote nos últimos dias, com 3,1 milhões de visitas, e chegam às lojas de Hong Kong por até HK$ 159 (R$ 111), enquanto modelos raros são revendidos por HK$ 1.200 (R$ 840). Apesar do apelo estranho, ainda não se sabe se os bonecos roubarão a coroa do Labubu, visto 2,5 bilhões de vezes no mesmo app.
★ O ex-diretor da Administração Nacional de Medicina Tradicional Chinesa e figura de destaque durante a pandemia Yu Wenming está sob investigação por corrupção, anunciou o principal órgão anticorrupção da China. Jornalista de formação e ex‑vice‑diretor da Associação antes de assumir o comando em 2018, Yu foi um dos principais promotores do uso da medicina tradicional chinesa no país, defendendo sua integração à medicina ocidental contra o coronavírus. Segundo a revista Caixin, outros executivos da área também estão sendo apurados, como Lu Jinhan, secretário do Partido e diretor da comissão de saúde de Ningxia, e Zhang Yujun, vice-diretor da administração de medicina tradicional chinesa de Guangxi.
fique de olho
A China realizará em setembro uma parada militar para marcar os 80 anos da vitória contra o Japão e o fascismo, numa demonstração de força em tempos de tensões globais.
O evento, na Praça da Paz Celestial, ocorrerá uma década após o primeiro desfile do tipo e contará com a presença dos presidentes Vladimir Putin, da Rússia, e Alexander Lukashenko, da Belarus, além de líderes de outros 30 países.
A expectativa é que o regime aproveite a ocasião para mostrar publicamente novas armas avançadas e caças J-15T, em um exercício de força do Exército chinês e sua crescente importância no cenário global atual.
Por que importa: em 2015, o desfile chinês contou com líderes de mais de 30 países, incluindo Ban Ki‑moon, então secretário-geral da ONU, e nomes como Tony Blair (Reino Unido), Gerhard Schröder (Alemanha), Lien Chan (Taiwan) e Joseph Estrada (Filipinas).
Desta vez, diante da considerável deterioração dos laços chineses com o Ocidente, é possível que a parada não receba nenhum líder de países europeus democráticos e se atenha à sua zona de influência imediata como Camboja, Vietnã, Venezuela e países africanos.
para ir a fundo
- A Macau Journal of Brazilian Studies abriu o processo de submissão de artigos. Serão aceitos textos com foco em economia, relações internacionais, direito, cultura ou abordagens interdisciplinares sobre a temática Brasil-China. Interessados devem contatar o organizador convidado da próxima edição, professor Alexandre Coelho no e-mail alexandre.coelho2022@gmail.com. (gratuito)
- A Revista IDeAS (CPDA/UFRRJ) está recebendo artigos para o dossiê “Relações China–América Latina: investimentos, ambiente e agricultura”. As submissões vão até o dia 24 de julho, conforme normas e orientações no site da publicação aqui. (gratuito)