O principal comandante militar dos Estados Unidos, general Dan Caines, disse neste domingo (22) que “é muito cedo” para saber se o ataque aéreo a três centrais do programa nuclear do Irã eliminou a capacidade de Teerã de buscar ter a bomba atômica.
Caines disse que os danos a Fordow, Natanz e Isfahan foram “severos”, mas ficou longe da fanfarra do presidente Donald Trump, do vice JD Vance e do secretário Pete Hegseth (Defesa), que falaram em “obliteração do programa nuclear”.
Há um certo truísmo na fala do general, que é o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Ninguém está em solo para verificar os danos. Os ataques iniciais da campanha de Israel contra o Irã haviam, nas contas de Tel Aviv, atrasado o programa em três anos.
O fato de a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) ter divulgado que não houve contaminação radioativa visível também sugere que a infraestrutura deve ter sido destruída, mas o urânio enriquecido dos aiatolás pode estar a salvo.
Além disso, a capacidade intelectual para fazer a bomba é imaterial: Israel matou vários cientistas nucleares, mas o conhecimento não se foi com eles.
Para Trump e Binyamin Netanyahu, o mais importante é dizer que houve uma vitória decisiva, nem que seja para jogar o problema para a frente. Do ponto de vista militar, de todo modo, a ação foi impressionante.
Caine detalhou neste domingo a Operação Martelo da Meia-noite, assim chamada porque foi os B-2 decolaram de sua base no Missouri (EUA) nesta hora da sexta para o sábado (22h em Brasília).
Foi uma operação altamente complexa e com táticas de despiste que não eram claros ao longo do sábado (21), quando monitores de tráfego aéreo viram o movimento dos bombardeiros e aviões-tanque rumo ao Pacífico —presumia-se que eles iriam para Guam ou Diego Garcia, bases americanas de onde poderiam vir a atacar o Irã.
Dois grupos de B-2 levantaram voo. Um foi para oeste e voou com transponder, equipamento que dá sua posição e pode ser registrado por sites de rastreio, ligado. Assim, logo a mídia percebeu os alertas de monitores. O Pentágono logo vazou que eles iriam para Guam.
Os B-2 são peça-chave da ação porque Israel não tem capacidade de ataque a instalações muito profundas. Só o bombardeiro americano opera a superbomba GBU-57, e por isso sua entrada na guerra era desejada por Tel Aviv desde o começo das hostilidade, na sexta retrasada (13).
Enquanto o grupo ia para o Pacífico, outros sete B-2 voavam para leste, pelo Atlântico e o Mediterrâneo, rumo ao Irã. Chegaram lá em 18 horas, apoiados por aviões de reabastecimento em voo, e ao entrar no espaço aéreo iraniano um submarino americano lançou 24 mísseis de cruzeiro Tomahawk contra Isfahan e Natanz.
Os B-2 foram escoltados por caças F-35 e F/A-18, que lançaram ataques de supressão de defesa aérea preventivos, abrindo o caminho. Segundo Caine, não houve nenhuma reação do Irã, nem fogo antiaéreo, nem caças no ar —sinal da eficácia da campanha de uma semana de Israel contra alvos militares no país.
Assim, os B-2 lançaram as primeiras superbombas em Fordow. A imagem da Maxar permite ver seis buracos no solo, mas o Pentágono não detalhou quantas GBU-57 foram usadas lá e, depois, em Natanz, apenas o total: 14.
Entre 16h40 e 17h05, no horário de Brasília, os alvos foram atingidos. Os B-2 então voltaram para sua base, completando um voo de 37 horas sem parar. A ação foi avaliada e anunciada por Donald Trump em uma postagem às 20h54.
Foi a maior operação com o B-2 da história operacional da aeronave, a mais cara já produzida, custando algo como R$ 11 bilhões cada em valores atuais. Há 19 deles no arsenal americano —outros 2 foram perdidos em acidentes.
Ao todo, disse Caine, 125 aviões participaram da ação, que também viu 75 mísseis de precisão sendo lançados contra o rival, além dos 24 Tomahawk.