Por Walter Porto/Folhapress
Um homem invadiu o palco principal da Feira do Livro na tarde deste sábado (21) durante uma homenagem ao poeta Antonio Cicero com sua irmã Marina Lima, a editora Alice Sant’Anna, seu amigo Arthur Nogueira e a poeta Bruna Beber.
Beber lia um texto de Cicero intitulado “Quase”, depois musicado por Caetano Veloso, quando um homem que não se identificou subiu no palco com estrondo, tomou o microfone da mão da escritora e começou a declamar um texto de protesto.
As convidadas se assustaram e o público resfolegou em conjunto. Depois de o intruso ler versos livremente por alguns segundos, dois seguranças se mobilizaram para contê-lo, escoltando-o pelo braço sem violência e fazendo-o descer do palco.
Quando Beber retomou a palavra e recomeçou o poema que estava lendo, causou uma onda de risadas quando leu novamente o título: “Quase”.
A programação da feira acontece de forma totalmente aberta na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu. O palco Petrobras, onde aconteceu a mesa, é o maior da feira e fica em espaço central na praça pública estava completamente lotado e havia pessoas assistindo à conversa de pé ao redor.
A Feira do Livro ressalta ter sido a primeira vez que um episódio do tipo aconteceu e diz lamentar o desrespeito envolvido na situação. “Pedimos desculpas às autoras”, acrescenta a organização.
Fora o susto, foi uma das mesas mais emotivas do evento paulistano até aqui. Os convidados se revezaram para ler, cada um, meia dúzia de poemas de Cicero coletados agora no livro “Fullgás”, que reúne sua obra completa e foi editado por Sant’Anna na Companhia das Letras.
Marina decidiu abrir a mesa com “Alma Caiada”, primeiro poema que resultou numa música em colaboração entre ela e seu irmão dez anos mais velho, que morreu em outubro passado após um procedimento de morte assistida na Suíça.
Ela contou que encontrou o texto num papel no chão de um quarto na casa em que moravam, desmontando a história que Cicero gostava de contar que ela encontrara o poema em uma gaveta.
A cantora também contou detalhes de como a dupla compôs a canção “Fullgás”, seu sucesso mais conhecido, e disse ter ficado emocionada e orgulhosa de esse ter sido o título escolhido para a coletânea da obra do irmão.
Sant’Anna ficou com o papel de declamar poemas que depois ficaram conhecidos como músicas ”Inverno”, famosa na voz de Adriana Calcanhotto, e “À Francesa”, outro dos maiores sucessos de Marina, que ouviu em silêncio e evidentemente emocionada.
Mas as emoções da cantora se manifestavam discretamente, na voz entrecortada nas leituras, em uma lágrima furtiva que secou já ao final da mesa e em seus tão característicos meios-sorrisos. Na plateia, o choro era mais evidente inclusive no diretor da feira, Paulo Werneck, emotivo à beira do palco.