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Com a considerável escalada do conflito no Oriente Médio, o vice na chapa derrotada de Kamala Harris, Tim Walz, defendeu que a China, e não Washington, poderia ser “a única potência global capaz de mediar a paz entre Israel e Irã”.
Segundo o New York Post, a fala aconteceu em um evento organizado pelo Centro para o Progresso Americano. Walz, que é filiado ao Partido Democrata e governador de Minnesota, fez questionamentos retóricos acerca da posição americana no conflito.
“Quem é a voz no mundo que pode negociar algum tipo de acordo nisso? Quem detém a autoridade moral, quem detém a capacidade de fazer isso? Não somos vistos como atores neutros e talvez nunca tenhamos sido,” disse. “Podem ser os chineses,” o ex-candidato e atual governador de Minnesota completou, sem elaborar.
A fala chamou a atenção pelo histórico de posturas críticas do democrata em relação ao governo chinês. Walz foi professor de inglês no país asiático durante anos e adota uma linha dura anti-Partido Comunista. Durante a campanha no ano passado, ele revelou, por exemplo, que se casou durante o aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial para não esquecer a data.
Os Estados Unidos tentam minimizar a efetividade da diplomacia chinesa no Oriente Médio, região que consideram sua zona de influência. Mesmo assim, Pequim tem conseguido moderado sucesso com parceiros por lá, o que inclui negociação bem-sucedida de um acordo de normalização nas relações entre Irã e Arábia Saudita e a mediação de conversas entre grupos políticos da Palestina no ano passado.
Os chineses, porém, têm mantido distância protocolar dos aspectos mais espinhosos do conflito entre Israel e seus vizinhos. No ano passado, a China fez pouco ou nada para convencer os houthis, uma milícia rebelde que atua como proxy do Irã no Iêmen, a interromper ataques a embarcações no mar Vermelho.
O país defende uma solução de dois Estados, sem avançar propostas de paz ou cessar-fogo como fez no caso da guerra na Ucrânia.
Por que importa: é incomum ver figuras de alto escalão nos EUA defenderem a participação chinesa em qualquer disputa diplomática de grandes proporções, motivo pelo qual a fala de Walz repercutiu na imprensa.
Mesmo assim, a opinião do governador parece ingênua. A China é, sim, próxima do Irã (e grande compradora do seu petróleo sancionado, a valores bem abaixo do comum), mas cuja influência diplomática permanece limitada. Até agora, a chancelaria chinesa se limitou a condenar os ataques israelenses e pedir que seus cidadãos deixem a região imediatamente.
pare para ver
“Cerco a Pingyu”, pintura comissionada pela Dinastia Qing que celebra a vitória na guerra contra o reino de Tungning (que controlava as atuais ilhas de Taiwan e Penghu) em 1683.
o que também importa
★ A China realizou com sucesso seu primeiro teste clínico com um implante cerebral invasivo sem fio, marcando presença ao lado dos EUA no avanço da tecnologia. Desenvolvido pelo CEBSIT e pela Universidade Fudan, o dispositivo foi implantado em março de 2025 em um paciente tetraplégico, que passou a controlar jogos e programas apenas com o pensamento. O chip, o menor e mais flexível do mundo, promete revolucionar o tratamento de lesões graves e ampliar a interação homem-máquina. Espera-se que o equipamento chegue ao mercado até 2028, com apoio regulatório já em estruturação pelo governo chinês.
★ A gigante chinesa TP-Link demitiu a maior parte da equipe de sua unidade de desenvolvimento de chips em Xangai, após um dos projetos fracassar nos testes finais. A medida indica um recuo estratégico da empresa em sua tentativa de expandir na área de semicondutores, especialmente no exterior. A unidade afetada, ligada à operação internacional da TP-Link, trabalhava no desenvolvimento de chipsets wi-fi e vinha enfrentando dificuldades técnicas. A decisão ocorre meses após o governo dos EUA abrir uma investigação de segurança nacional contra a companhia, que mantém atividades em sua base em Shenzhen.
★ Donald Trump defendeu a reintegração da Rússia ao G7 e sugeriu incluir a China no grupo, isolando-se da posição dos demais membros. O presidente dos EUA chamou de “grande erro” a expulsão de Moscou após a anexação da Crimeia em 2014 e disse que incluir Pequim “não seria má ideia”. A fala contrasta com a postura adotada desde 2021, quando o G7 endureceu o tom contra a China por questões de direitos humanos e comércio.
fique de olho
A chancelaria chinesa pediu que os EUA não interfiram em assuntos domésticos da América Latina, após o anúncio de que o Panamá vai substituir todas as suas antenas Huawei por soluções americanas.
A medida ressuscita uma “caça às bruxas” à empresa chinesa, que no primeiro mandato de Trump foi alvo de sucessivas sanções e de uma cruzada coordenada pelo então secretário de Estado, Mike Pompeo, para evitar que parceiros mundo afora adotassem soluções da Huawei para sua infraestrutura 5G.
Washington, disse o porta-voz chinês Guo Jiakun, “há muito tempo se envolve em atividades de vigilância maciça e ciberataques na América Latina e no Caribe, que geram uma influência maligna em todo o hemisfério ocidental e fazem com que os países das Américas fiquem inseguros.”
O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, disse que vai supervisionar pessoalmente a instalação das torres americanas e pediu que os EUA se abstivessem de fazer comentários sobre a política doméstica panamenha.
Por que importa: o Departamento de Estado, liderado pelo republicano Marco Rubio, fez do Panamá um exemplo de como os EUA planejam tratar toda a região e seu relacionamento com a China.
Por lá, a estratégia segue prosperando, seguindo a decisão do país centro-americano no início do ano em abandonar a Iniciativa de Cinturão e Rota e tentar restringir a atuação da CK Hutchinson, uma empresa de Hong Kong, no canal do Panamá.
para ir a fundo
- A Embaixada da China está com um concurso de redação que vai dar eletrônicos, brindes e uma viagem com tudo pago para a China aos vencedores. Com o tema “A Modernização ao Estilo Chinês e o Brasil”, os textos devem ser enviados até 20 de junho e devem ter entre 1000 e 3000 palavras. Mais informações aqui. (gratuito, em português)
- A Macau Journal of Brazilian Studies, revista acadêmica dedicada a temas relacionados ao Brasil e suas relações com a China, abriu o processo de submissão de artigos. Serão aceitos textos com foco em economia, relações internacionais, direito, cultura ou abordagens interdisciplinares sobre a temática Brasil-China. Interessados devem contatar o organizador convidado da próxima edição, Prof. Alexandre Coelho no e-mail alexandre.coelho2022@gmail.com. (gratuito)