A princípio, a série “American Manhunt: The Search for Bin Laden” (Netflix, 2025) dedica-se a reconstruir os acontecimentos do 11 de Setembro de 2001 com imagens e depoimentos já relativamente conhecidos. Há uma certa demora até que a narrativa ganhe ritmo e emoção.
Mas isso começa a mudar a partir do segundo dos três episódios, quando o foco se desloca para os bastidores da Casa Branca e do comando da CIA, desde as primeiras horas após os atentados em Nova York e Washington até o momento em que, quase uma década depois, o líder da Al-Qaeda é localizado e morto.
Dirigido por Michael Ingraham, o documentário aposta em uma narrativa acelerada, montagem de suspense e depoimentos exclusivos de militares e agentes de inteligência que participaram diretamente da operação que, em maio de 2011, executou Osama bin Laden em seu esconderijo no Paquistão. O relato mais vívido é o do soldado que efetuou o disparo fatal contra o terrorista, identificado nas comunicações militares pelo codinome Geronimo.
Embora algumas passagens sejam encenadas, a maior parte das imagens e vídeos exibidos é real. O terceiro episódio se destaca ao mostrar o meticuloso treinamento das forças americanas para a invasão do complexo em Abbottabad. Os soldados construíram, destruíram e reconstruíram diariamente uma réplica exata do esconderijo, ensaiando cada passo da incursão para garantir que nenhum detalhe escapasse durante a ação real.
A narrativa é construída como um thriller, com forte ênfase no clima de tensão dentro da Sala de Situação da Casa Branca, onde Barack Obama e sua equipe acompanharam, em tempo real, os minutos decisivos da missão. O documentário também toca fundo nas emoções dos principais agentes e analistas envolvidos na caçada.
Muitos aparecem com os olhos marejados, revisitando o trauma que carregam desde o 11 de Setembro —o peso do fracasso em evitar os atentados e a dor pela morte de colegas ao longo da prolongada guerra ao terror. Mais do que uma celebração da eliminação do inimigo número um, o que emerge é uma espécie de catarse coletiva.
Esse sentimento de culpa e exaustão emocional evoca a figura de Carrie Mathison, a agente fictícia da série “Homeland”, retratada como uma profissional atormentada por não ter conseguido impedir os ataques.
“American Manhunt” mantém-se dentro de uma perspectiva quase exclusivamente americana. Pouco ou nada se discute sobre as vítimas civis da guerra ao terror, as violações de soberania envolvidas na operação ou as críticas internacionais à execução extrajudicial de Bin Laden.
O documentário também evita qualquer reflexão mais profunda sobre os efeitos geopolíticos do episódio, repetindo um padrão já visto em outras produções recentes do gênero, como “Turning Point: 9/11 and the War on Terror” (2021), centradas na ótica militar dos EUA.
No fim, “American Manhunt” cumpre bem o papel de thriller documental e de exercício de memória. Para quem busca uma análise mais politicamente contextualizada, no entanto, o conteúdo é insuficiente —e, em muitos momentos, demasiadamente autocongratulatório.
A última frase do documentário, dita por um dos agentes que participaram da missão, resume com precisão o que ficou fora de cena: “Sabíamos que era o fim de Bin Laden, mas não da história.”