Texto de Sergio Denicolli:
“Se há uma verdade no Brasil hoje é que grande parte das pessoas está cansada da polarização. O exercício de escolher o menos pior deixou a população brasileira exausta. Isso se reflete nas conversas do dia a dia com amigos, colegas e familiares onde, muitas vezes, não se fala de política, para evitar conflitos.
Mesmo no espaço tenso das redes socais, os moderados estão mais quietos, enquanto as bolhas que se movimentam com o impulso dos algoritmos estão cada vez mais distantes do cidadão comum e mais aptas aos perfis radicalizados.
Quando surgiram os ventos que resultaram no impeachment de Dilma Roussef e, posteriormente, fizeram Jair Bolsonaro ascender com um discurso forte de ruptura e contra o ‘sistema’, as pessoas escolheram um time para militar e ambos os lados passaram a jogar ofensivamente, ampliando discursos de ódio e degradação.
Isso abriu a guarda da falta de coerência das forças envolvidas nessa disputa insana, que todos os dias é lamentavelmente exposta, de forma vergonhosa. Um típico caso do sujo falando do mal lavado, com os dois lados se acusando de oportunismo, corrupção, manutenção de privilégios, de mentir e de defender interesses próprios.
O nível foi abaixo de zero, com agressões, palavrões, falta de decoro, termos amplamente ofensivos, e até trocas de socos, que acabaram por ferir também a própria política. O resultado é que sobra retórica de ataque e faltam ações positivas, levando muitas pessoas a entender que aquela briga não é por elas.
Alguns políticos ainda não deram conta dessa mudança de narrativa, mas há quem já esteja atento. E são esses que poderão surpreender em 2026, porque estarão mais sintonizados com os desejos dos brasileiros.
A polarização fez com o que o País entrasse numa dicotomia esquisita. Foram eleitos um presidente de esquerda e um Congresso de direita. Uma receita impossível de fazer o bolo crescer. Assim, temos um governo refém de um ambiente parlamentar interessado no seu fracasso, mas confortável com sua fragilidade, já que é nesse cenário que obtém concessões inviáveis em tempos de estabilidade.
]Nesse ambiente, poucas pautas avançam com propriedade. Tudo se torna turvo, na espuma de conflitos diariamente fabricados. O consenso é raro e a principal linguagem política se resume à liberação de emendas bilionárias em troca de sobrevivência administrativa. O Brasil caminha, mas em círculos, e a população assiste a isso sem ver melhorias concretas em seu dia a dia.
Depois de Lula e Bolsonaro, o sentimento de esperança foi asfixiado. Grande parte dos brasileiros tem deixado claro que não quer mais repetir nenhum dos dois. Isso abre um espaço único para que um outsider, ou um político menos radical, consiga canalizar um desejo coletivo por mudança e estabilidade.
E essa é uma péssima notícia para o lulismo e o bolsonarismo. Por isso que ambos os grupos desejam fortemente se enfrentar nas urnas. Lula sabe que somente o bolsonarismo poderá salvá-lo da derrocada. E Bolsonaro sabe que, se não impuser um candidato de sua própria família, será engolido e esquecido assim que as urnas se abrirem, porque, nesse momento, estaria já posicionado no passado.
Mas as pessoas estão atentas e não compactuam com os planos pessoais de quem já teve oportunidades, mas se perdeu nos labirintos do poder.
Há um desejo enorme de voltar a acreditar e é por isso que, diante da degradação da política, parte relevante da sociedade começa a se mobilizar para romper esse ciclo. Trabalhadores das mais diversas áreas, empresários, pessoas do mercado, nomes ligados a movimentos sociais, religiosos, entre outros grupos, percebem que a paralisia atual é insustentável e têm se manifestado por mudanças.
Não fazem alarde, mas, discretamente, passam a impor a necessidade de haver um nome que una, não que divida. Um líder capaz de reconstruir pontes e resgatar a política como ferramenta de transformação, e não como arena de guerra.
Porque se a única salvação de Lula for o bolsonarismo – e vice-versa – o Brasil continuará sem capacidade de se reerguer.”
