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Pai de estudante brasileiro detido nos EUA: estou sem chão – 03/06/2025 – Mundo

“Fiquei sem chão. Não esperava que isso fosse acontecer”, resume, em entrevista à Folha, João Paulo Gomes Pereira, 42, sobre o que sentiu ao saber da notícia de que seu filho Marcelo Gomes, 18, havia sido detido por agentes da imigração dos Estados Unidos no último final de semana.

Pereira mudou-se de Taboão da Serra (SP) para os EUA há 12 anos com a esposa e Marcelo, à época com seis anos. Ele diz que tinha parentes residentes no país e que, a princípio, a viagem era de turismo. Alguns meses depois, os pais conseguiram vistos de estudantes, mas, quando os documentos expiraram, eles optaram por permanecer no país, mesmo em situação irregular.

“Minha mulher engravidou, eu parei de estudar e comecei a trabalhar”, conta. Pereira hoje faz faxinas, mora com a esposa, com Marcelo e com outros dois filhos nascidos já nos EUA, de 7 e 9 anos.

Seu filho mais velho foi detido pelo ICE (serviço de imigração americano) no sábado (31), enquanto dirigia para um treino de vôlei em Milford, no estado de Massachusetts. Ele estava com um amigo também em situação irregular nos EUA, mas que foi poupado por ser menor de idade.

A prisão do rapaz, estudante do ensino médio da Milford High School, gerou comoção na cidade. Moradores fizeram um protesto no domingo (1º), e a governadora do estado, a democrata Maura Healey, fez ao ICE uma cobrança por explicações.

Até esta terça-feira (3), Marcelo estava detido em Burlington, também em Massachusetts. Um advogado já pediu a soltura do estudante. A Justiça decidiu que ele não pode ser transferido ou deportado sem aviso prévio de 48 horas.

Pereira diz que tem falado com o filho todos os dias pelo telefone e que se sentiu culpado pela prisão. “Eu fiquei muito desnorteado pelo fato de saber que quando ele veio para cá, ele tinha seis anos e ele não quis, né? Fui eu que quis isso para ele. Ele está aqui estudando, trabalhando, criou raiz no país, e de repente ele se encontra dentro de um presídio, então eu pensei: o que eu fiz com o meu filho?”, relata o pai.

Na segunda-feira (2), após os protestos em Milford, agentes de imigração afirmaram em entrevistas que a intenção era na verdade deter o próprio Pereira, já que o veículo que estava sendo dirigido por Marcelo estava em nome dele. Depois, afirmaram que o pai do estudante tem registros de infrações por direção acima da velocidade permitida. Pereira nega ambas as versões. Diz que em momento algum seu paradeiro foi um questionamento feito ao filho e afirma que nunca foi autuado no trânsito.

Conta ainda que ele e a esposa estão sem sair de casa desde a detenção de Marcelo por receio de terem o mesmo destino. Ainda assim, os planos são continuar nos EUA. Pereira diz que acionou advogados para tentar regularizar a situação da família, enquanto busca a soltura do filho mais velho.

“Eu amo este país. Depositei todas as minhas fichas aqui. Não tenho mais nada no Brasil. Se formos deportados hoje, não temos para onde ir. Ele [Marcelo] está bastante esperançoso, esperando ser solto em breve e retornar para casa, para a escola, para sua vida.”

Pereira diz que o consulado brasileiro em Boston entrou em contato para oferecer assistência com o que for possível, inclusive para regularizar a dupla cidadania dos filhos caso a família precise deixar os EUA. Se Marcelo for deportado, no entanto, a intenção do pai é acompanhar o filho de volta ao Brasil.

“Eu prefiro dizer que isso é um plano de Deus. Ao nosso ver, se Deus intervier, se Deus mover o coração do presidente Donald Trump, e ele sentir compaixão de nós, os imigrantes…”

Pereira diz que, embora não tenha votado na eleição por não ser cidadão americano, apoiava o discurso de Trump para expulsar do país imigrantes que fossem criminosos. Para ele, o presidente americano tinha razão em querer aumentar a segurança no país —o republicano fez na campanha uma série de afirmações falsas ou distorcidas que associavam imigrantes ao agravamento da criminalidade.

No início do ano, então, Pereira disse que não se preocupava com a possibilidade de sua família ser alvo de agentes de imigração, por falta de antecedentes criminais. A apreensão começou, porém, quando ficou claro que a investida de Trump não se resume a imigrantes que tenham cometido crimes, mas a estrangeiros em situação irregular no país de uma maneira geral.

Ainda assim, o pai pensava que talvez ele próprio pudesse ser alvo, não o filho. “Eu tive muita dificuldade de captar essa ideia [do filho detido]”, diz Pereira. “Eu nunca prepararia o meu filho para que ele viesse a passar por isso. Ficamos sem chão, ainda estamos. Foi um abalo muito grande para nós.”

Embora tivesse simpatia pelos planos anunciados por Trump, Pereira, que já viveu sob o governo de três presidentes diferentes nos EUA, diz que nunca viu um clima de perseguição a imigrantes e pânico tão grandes como agora. “Todo mundo está inseguro.”

Ele avalia que, se precisasse tomar hoje a decisão de se mudar do Brasil para os EUA, como fez há 12 anos, provavelmente não iria. “Nós não sabíamos que esse dia chegaria. Está sendo muito difícil.”

Fonte: Folha de São Paulo

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