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Entenda: Ataque atingiu coração da Força Aérea de Putin – 02/06/2025 – Mundo

O impressionante ataque promovido pela Ucrânia contra as bases de bombardeiros estratégicos da Rússia no domingo (1º) mirou o coração da Força Aérea de Vladimir Putin. E acertou.

O impacto da ação é simbólico, tático e estratégico. O primeiro efeito é óbvio: a engenhosidade da operação expõe falhas graves de vigilância e inteligência.

A sensação de vulnerabilidade russa foi exacerbada, com apresentadores da TV estatal atônitos ao descrever os eventos. Aqui e ali surgem comparações com Pearl Harbor, o ataque japonês à frota americana que levou os Estados Unidos à Segunda Guerra Mundial em 1941.

Como lá, ativos vitais das Forças Armadas rivais foram atingidos quando pareciam protegidos numa base distante. Parece evidente cabeças rolarão em Moscou, e especula-se que o ataque retaliatório russo poderá ser brutal, talvez repetindo o uso do míssil balístico Orechnik, empregado na guerra apenas uma vez.

Do ponto de vista tático, o sucesso operacional novamente prova que os drones vieram para mudar a natureza da guerra. Foram empregados pequenos quadricópteros do tipo FPV (visão em primeira pessoa, na sigla inglesa), armados com uma única carga explosiva.

Em resumo, armamentos que custam menos de R$ 2.500 atingiram aviões de dezenas de milhões de dólares. Os pneus colocados sobre asas dos aviões nas bases, que dificultam o sistema de guiagem de drones de longo alcance, foram inúteis.

Além disso, o planejamento foi preciso. Os ucranianos disseram ter contratado motoristas locais que não sabiam o que estavam transportando. Pode ser verdade ou não, mas o fato é que, como em outros ataques a bases aéreas com pequenos drones no passado, a ação ocorreu dentro do território inimigo.

No caso do domingo, bem dentro: as duas bases que registraram danos são bastante distantes da Ucrânia. Olenia, no Ártico, fica a 1.900 km do país vizinho, enquanto Belaia, na Sibéria, fica a 4.300 km. Elas não têm sistemas de hangares reforçados justamente por confiar no seu isolamento.

Os drones estavam escondidos em tetos falsos dos veículos, que abriam por controle remoto e explodiram depois que os aviões-robôs foram lançados.

Do ponto de vista estratégico, ou seja, de impacto de longo prazo, os danos ainda precisam ser determinados, mas tudo indica que a frota de bombardeiros de longo alcance de Putin foi duramente afetada.

Segundo um analista militar russo disse à reportagem, até 20% da força pode ter sido perdida. Isso é uma enormidade, algo nunca registrado —aviões começaram a ser empregados com fins bélicos na Guerra Ítalo-Turca em 1911.

No domingo, o serviço secreto ucraniano falou em 41 aviões atingidos, o que equivaleria a 31% dos bombardeiros rivais. Nesta segunda, o Escritório contra Desinformação em Kiev disse que só tinha confirmação da destruição de 13 aviões, o que daria 10% da frota, além de um número incerto de danificados.

Qualquer cenário é desastroso para os russos. As bases em questão abrigavam o esteio da força de bombardeiros, o quadrimotor turboélice Tu-95MS, e os modelos supersônicos Tu-22M3. Os aviões têm sido intensivamente na guerra, participando dos ataques em ondas contra a Ucrânia.

Eles lançam seus mísseis de cruzeiro de dentro do espaço aéreo russo, evitando o risco de abate. Com efeito, até aqui o site de monitoramento de perdas militares Oryx só contava cinco Tu-22 derrubados e um Tu-95 danificado em solo até aqui.

A Rússia operava na virada do ano, segundo o britânico Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, 58 Tu-95 e outros 58 Tu-22, mas é incerto quantos estavam de fato em condição de voo.

O terceiro modelo de bombardeio de Moscou é o poderoso Tu-160, maior supersônico do mundo, que tem 16 unidades em uso. Nenhuma foi atingida no domingo. Todos os três aparelhos podem levar armas nucleares, mas atualmente só o Tu-95 e o Tu-160 são designados para a tarefa.

Adicionando ônus estratégico, há o fato de que nem o Tu-22, nem o Tu-95 são fabricados. Suas versões em uso são modelos modernizados das aeronaves, produzidas na antiga União Soviética.

Além disso, há rumores de que ao menos um avião-radar A-50 foi atingido na ação, de uma frota de menos de dez operacionais. Se for fato, é uma baixa importante, pois essas aeronaves monitoram grandes áreas e coordenam a ação de outros aviões. Dois já foram abatidos nesta guerra iniciada em 2022.

Ao todo, o instituto conta 1.169 aviões de guerra a serviço do Kremlin. O Oryx relata 141 aviões perdidos no conflito pela Força Aérea russa, ante 108 por Kiev.

Fonte: Folha de São Paulo

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