O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse nesta sexta (30) que concorda em enviar uma delegação para a segunda rodada de negociações diretas com os russos na Turquia acerca da guerra iniciada em 2022, mas disse que elas têm de ser “significativas”.
A condicional deixou em aberto se ele topou ou não a proposta de Moscou de um encontro em Istambul na segunda (2), embora tudo indique que o ucraniano está ficando sem opções além de aceitar.
Ele fez o anúncio de sua pretensão em uma postagem no X, após conversar com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Zelenski também afirmou que ambos conversaram acerca de uma reunião de cúpula deles com Vladimir Putin e o americano Donald Trump, o verdadeiro fiel da balança do processo.
Os termos vagos de Zelenski visam evitar a impressão de que capitulou ante a pressão militar russa. Putin lançou os maiores ataques aéreos da guerra até aqui no fim de semana passado, e contempla uma ofensiva de grandes proporções que já teve suas salvas iniciais no nordeste ucraniano.
Na quarta (28), depois que Trump escalou sua retórica contra o Kremlin que passou a tratar de forma próxima, mudando a política pró-Kiev dos Estados Unidos, a Rússia anunciou que mandaria uma delegação para Istambul para conversas na segunda.
A Ucrânia, até a postagem de Zelenski, denunciava isso como uma manobrar protelatória, já que os russos não enviaram ao país rival seu memorando com as propostas para um acordo de paz. Os ucranianos entregaram seu sumário para os EUA, segundo o negociador americano Keith Kellogg, mas é incerto se Kremlin o recebeu.
Moscou insiste em que a entrega de suas propostas seja feita in loco. Segundo a chancelaria em Kiev disse nesta sexta, isso significa que os termos são inaceitáveis, e que no fundo tudo é um teatro para ganhar mais tempo.
Esse vaivém faz parte do estágio atual da guerra, com a volta das conversas diretas entre os rivais, que não ocorriam desde o fim de março de 2022 —na Turquia, aliás. Há duas semanas, pressionados por Trump, os dos lados toparam se encontrar em Istambul.
A resultante, além do fato em si, foi a maior troca de prisioneiros no conflito até aqui, mil para cada lado. Na sua postagem, Zelenski lamentou: “A troca foi uma conquista importante daquele encontro, mas infelizmente a única. Um cessar-fogo é necessário para rumarmos à paz”, escreveu.
A Rússia repetiu nesta sexta, em manifestação no Conselho de Segurança da ONU, que só topa uma trégua se forem discutidas condições para tratar do que chama de causas fundamentais do conflito. Colocou também como exigência mínima que toda a ajuda ocidental cesse durante um eventual cessar-fogo, assim como a mobilização total na Ucrânia.
Isso é tática de negociação, colocar o máximo de demandas à mesa para aí focar no essencial, mas até aqui nada indica interesse de Putin em silenciar os canhões enquanto Zelenski não aceitar seus termos.
A chave é Trump, que nesta semana passou à ofensiva contra o russo, dizendo que ele estava “completamente enlouquecido” e que acreditava que poderia estar sendo “enrolado” pelo colega. Ao mesmo tempo, deu uma semana para a Rússia se mexer, prazo que condizia com a oferta de negociações feita por Moscou.
Com isso, a batata quente passou para Zelenski, que a está assoprando paulatinamente. Trump ameaçou a Rússia com mais sanções caso as conversas fracassem, mas também disse que retiraria o envolvimento americano na guerra —sugerindo deixar Kiev sem a sua vital ajuda militar, o que seria uma grande notícia para Moscou.