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EUA: europeus vão com celular descartável por temer espião – 15/04/2025 – Mundo

A Comissão Europeia está distribuindo celulares descartáveis (burner phones, que são aparelhos pré-pagos, mas sem vínculo com nenhuma operadora) e notebooks básicos a alguns dos seus funcionários que viajarão para os Estados Unidos numa tentativa de evitar riscos de espionagem — uma medida tradicionalmente reservada para viagens à China e à Ucrânia, por receio de vigilância de Pequim e de Moscou.

Comissários e altos integrantes que participarão das reuniões do FMI e do Banco Mundial na próxima semana receberam a nova orientação, relataram quatro pessoas com conhecimento direto do assunto. Segundo uma delas, a preocupação do braço executivo da União Europeia é a possibilidade de os EUA acessarem seus sistemas.

O tratamento dado a Washington como um possível risco à segurança destaca o quanto as relações se fragilizaram desde o retorno de Donald Trump à Presidência em janeiro deste ano.

Trump acusou a União Europeia de ter sido criada para “prejudicar os EUA” e impôs tarifas de 20% (chamadas de “recíprocas”) sobre as exportações do bloco, embora posteriormente tenha reduzido esse percentual à metade por um período de 90 dias.

Ao mesmo tempo, Trump tem se aproximado da Rússia e pressionado a Ucrânia a ceder controle de ativos ao suspender temporariamente a ajuda militar. O presidente americano também ameaçou retirar garantias de segurança à Europa — o que tem levado o continente a intensificar seus esforços de rearmamento.

A aliança transatlântica acabou, nas palavras de um outro funcionário da UE.

A Casa Branca e o Conselho de Segurança Nacional dos EUA não responderam imediatamente aos contatos feitos pelo Financial Times.

Bruxelas e Washington estão envolvidos em negociações delicadas em diversas frentes, nas quais seria vantajoso para qualquer um dos lados obter informações confidenciais do outro.

Nesta segunda-feira (14), Maros Sefcovic, comissário europeu de comércio, reuniu-se com o secretário de comércio norte-americano, Howard Lutnick, em Washington, com o intuito de solucionar o confronto tarifário.

A UE adiou a aplicação de medidas retaliatórias sobre € 21 bilhões (R$ 139 bilhões) em exportações dos EUA, aprovadas após os americanos imporem tarifas ao aço e ao alumínio.

Os EUA também criticaram a regulamentação europeia sobre empresas de tecnologia, sob o argumento de que Bruxelas estaria censurando a liberdade de expressão e manipulando eleições com atitudes como a exclusão de um candidato presidencial na Romênia por suposto benefício de contas no TikTok.

Três comissários europeus vão a Washington para as reuniões do FMI e Banco Mundial entre 21 e 26 de abril: Valdis Dombrovskis (economia), Maria Luís Albuquerque (serviços financeiros) e Jozef Síkela (assistência ao desenvolvimento).

A Comissão confirmou que atualizou recentemente sua orientação de segurança para viagens aos EUA, mas afirmou que nenhuma instrução escrita sobre o uso de celulares descartáveis foi emitida. O serviço diplomático da UE participou da atualização, como de praxe.

Segundo funcionários, a orientação inclui recomendações como o desligamento dos celulares na fronteira e sua utilização dentro de capas especiais para impedir espionagem se forem deixados desacompanhados.

Para Luuk van Middelaar, diretor do Instituto de Geopolítica de Bruxelas, a orientação não causa surpresa. “Washington não é Pequim nem Moscou, mas é um adversário que tende a usar métodos extralegais para defender seus interesses.”

Van Middelaar lembrou que o governo do então presidente Barack Obama foi acusado de espionar o telefone da chanceler alemã Angela Merkel, em 2013.

“Governos democratas usam as mesmas táticas”, disse ele. “É um reconhecimento da realidade por parte da Comissão.”

Há ainda um risco adicional ao entrar nos EUA, onde agentes de fronteira têm direito de confiscar celulares e computadores e verificar seu conteúdo.

Turistas e acadêmicos europeus já foram barrados no país após autoridades identificarem comentários críticos às políticas de Trump em redes sociais ou arquivos em seus dispositivos.

Em março, o governo francês afirmou que um pesquisador do país foi deportado por ter expressado uma “opinião pessoal” sobre a política de pesquisa dos EUA.

Funcionários da Comissão também foram orientados a garantir que seus vistos estejam registrados nos documentos diplomáticos (laissez-passer), não nos passaportes nacionais.

Fonte: Folha de São Paulo

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