O governo Trump está tentando forçar as universidades de elite dos EUA a se submeterem. Em jogo está o futuro de instituições que formaram a maioria de nossos presidentes americanos recentes, a grande maioria dos juízes da Suprema Corte e que servem como impulsionadores de nossa prosperidade e moldadores de nossos valores sociais.
As ameaças da gestão de retirar bilhões de dólares em financiamento são pouco mais do que extorsão. É preciso resistir a elas usando todos os meios legais disponíveis. A capitulação recente da Universidade Columbia, que concordou com uma série de mudanças na tentativa de evitar a perda de centenas de milhões em financiamento, não deve ser replicada. Cada ato como esse torna o próximo mais provável. Cada ato de retidão reverbera.
Como na maioria das confrontações, os méritos estão longe de ser unilaterais. Críticos das universidades de elite, incluindo Harvard, onde sou professor, estão certos ao dizer que elas continuam a tolerar o antissemitismo em seu meio de uma maneira que seria inconcebível com qualquer outra forma de preconceito; que elas priorizaram a identidade em detrimento da excelência na seleção de alunos e professores; que lhes falta diversidade de perspectiva e que repetidamente falharam em impor disciplina e manter a ordem.
A insistência das universidades para que sejam totalmente deixadas em paz por seus financiadores federais soa vazia à luz do entusiasmo com que elas aceitam a microgestão quando o resultado lhes é simpático, como as ameaças de Washington de reter fundos a menos que os orçamentos esportivos de homens e mulheres fossem equiparados.
Mas a gestão Trump não está agindo de boa-fé em suas supostas preocupações com o antissemitismo nem está seguindo a lei em sua abordagem às universidades.
O presidente Trump elogiou uma manifestação de supremacistas brancos que incluía cantos como “judeus não nos substituirão”; jantou publicamente com negadores do Holocausto; fez causa comum com o partido alemão AfD descendente dos nazistas e invocou chavões sobre judeus ricos. A verdadeira motivação por trás de seu ataque às universidades é sugerida pela declaração do vice-presidente J. D. Vance de que as “universidades são o inimigo”. A estratégia do governo é a extorsão, pois tem atacado escritórios de advocacia, juízes federais, legisladores que discordam de seus éditos e órgãos tradicionalmente independentes do governo.
O Título 6º da Lei de Direitos Civis de 1964 permite adequadamente que o financiamento federal das universidades possa ser condicionado a evitar discriminação. Mas, como aponta uma declaração recente de um grupo de renomados professores de direito, a norma também protege contra o uso desse poder para punir críticos ou restringir a liberdade acadêmica. Entre os requisitos da lei estão períodos de aviso, audiências, soluções que são estritamente adaptados a infrações específicas e uma notificação ao Congresso de 30 dias antes de qualquer corte de financiamento. Nada disso parece fazer parte da abordagem do governo no caso das universidades.
A Casa Branca não limitou seus esforços a fazer acusações de discriminação. A gestão busca ditar o que as universidades fazem em questões que vão desde disciplina estudantil até organização acadêmica e policiamento no campus. As universidades que enfrentam essas ameaças devem deixar claro que estão dispostas a negociar com autoridades governamentais apenas sobre questões cobertas por estatuto e por meio dos procedimentos estabelecidos na lei.
Elas devem deixar claro que seus consideráveis patrimônios financeiros não estão lá apenas para serem invejados ou admirados. Parte de sua função é ser utilizada em situações de emergência, e cobrir lapsos de financiamento federal certamente conta como uma. Como ex-reitor da Universidade Harvard, acredite em mim quando digo que maneiras podem ser encontradas em uma emergência para utilizar até mesmo partes do patrimônio que foram designadas para uso específico por seus doadores.
E para manter o terreno moral elevado, o que as universidades em grande parte perderam, elas precisam de uma agenda de reforma muito mais agressiva focada no antissemitismo, celebrando a excelência em vez de venerar a identidade, buscando a verdade em vez de noções particulares de justiça social e promovendo a pluralidade de perspectivas como a dimensão mais importante da diversidade.
Isso não acontecerá por meio dos processos deliberativos habituais das universidades, que dão muito poder a membros do corpo docente que têm agendas políticas. Isso exigirá líderes fortes e determinados apoiados por administradores confiantes e competentes. Eu gostaria de que Harvard e outras universidades tivessem passado por reformas muito mais rapidamente após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, para que suas mudanças não parecessem ser uma resposta à pressão externa.
Instituições como Harvard, o alvo mais recente de Trump, possuem vastos recursos financeiros, grande prestígio e amplas redes de ex-alunos influentes. Se elas não resistirem ou não puderem resistir à aplicação arbitrária do poder do governo, quem mais poderá? Sem atos de resistência, o que protege o Estado de Direito?
Espero e confio que, no tempo de testes que está por vir, as universidades se reformem e resistam à pressão externa. Seu futuro e o dos EUA estão em jogo.